Em plena hora do rush de Londres, na terça-feira, um homem identificado pela imprensa local como Salih Khater, de 29 anos, bateu com um carro nas barreiras de segurança em frente ao Parlamento britânico. A polícia está tratando o incidente, que deixou três pessoas feridas, como um potencial ataque terrorista.
Em breve comentário, ainda na manhã de terça, o presidente dos EUA, Donald Trump, seguiu seu padrão habitual: disparou um tuíte sobre "outro ataque terrorista" em Londres.
Another terrorist attack in London...These animals are crazy and must be dealt with through toughness and strength!
â Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 14 de agosto de 2018
Uma sensação de déjà vu é compreensível. Há pouco mais de um ano, um ataque similar em Londres resultou na morte de cinco pessoas e feriu mais de 50 em frente às Casas do Parlamento e da adjacente Ponte de Westminster.
Apesar de tais ataques, estatísticas divulgadas este mês pela Universidade de Maryland sugerem que 2017 foi o terceiro ano consecutivo em que o número de ataques terroristas em todo o mundo - e as mortes causadas por eles - caiu. Até agora, 2018 indica que esta tendência de queda deve continuar.
O programa de Terrorismo e Respostas ao Terrorismo (START, na sigla em inglês) da universidade concluiu que houve 10.900 ataques terroristas em todo o mundo no ano passado, que mataram um total de 26.400 pessoas, incluindo 8.075 perpetradores. O ataque terrorista mais mortal de 2017 ocorreu em outubro, na Somália quando assaltantes detonaram explosivos em um caminhão perto do Hotel Safari. Mais de 580 pessoas foram mortas e mais de 300 ficaram feridas.
Em relação a 2016, houve uma queda de 18% no número de ataques terroristas. Naquele ano foram registrados 13.400 casos que mataram 34 mil pessoas. O número de ataques e mortes por terrorismo parece ter atingido o pico em 2014, quando houve quase 17.000 ataques e mais de 45.000 vítimas.
Análise dos dados
O que explica a tendência de queda? Na Europa Ocidental, onde o número de ataques aumentou ligeiramente em 2017 - mas o número de vítimas caiu em 65% - pode ser uma questão de policiamento e contrainteligência. A primeira-ministra britânica Theresa May disse na terça-feira (14) que o país frustrou 13 conspirações terroristas islâmicas e quatro da extrema-direita desde março de 2017, quando ocorreu o ataque próximo ao Parlamento britânico.
Em escala global a resposta é clara. Embora tenha havido um aumento nos ataques terroristas na Europa nos últimos anos, a maioria ainda ocorre no Oriente Médio e na África, e essas regiões registraram grande declínio em 2017. De acordo com o START, o número de ataques terroristas no Oriente Médio e no Norte da África caiu 38% e o número de vítimas diminuiu em 44%.
Isso pode ser em grande parte atribuído à perda de território e às derrotas militares do Estado Islâmico ao longo de 2017. Sem uma base estável, o número de ataques que o grupo jihadista poderia perpetrar em países como Iraque e Síria caiu drasticamente, assim como o dano que poderia causar a populações civis.
Foi em grande parte graças à ascensão do Estado Islâmico e outros grupos extremistas como o Boko Haram que 2014 se tornou um ano tão marcante para o terrorismo global. Em 2015, o Instituto de Economia e Paz divulgou um relatório que constatou que houve um aumento de 80% nas mortes por terrorismo em apenas um ano - e que o número de mortes em 2014 foi nove vezes maior do que havia sido em 2000.
Mas uma leitura mais atenta das estatísticas de 2014 mostra um cenário com nuances. Apenas três países - Iraque, Nigéria e Afeganistão - foram responsáveis por 60% das mortes por terrorismo. E mesmo que o total naquele ano tenha sido terrível (mais de 45.000, de acordo com o START), ainda foi menor do que o de mortes causadas por overdoses de drogas nos Estados Unidos.
Terrorismo em declínio?
É muito cedo para dizer se 2018 seguirá a tendência de queda dos últimos três anos. O grupo de monitoramento Jane, da fornecedora de informações e análises IHS Markit, alertou que pode haver um surto de ataques na Europa à medida que os combatentes do Estado Islâmico retornarem do Oriente Médio. Notavelmente, na terça-feira, dois relatórios sugeriram que o número de combatentes do Estado Islâmico no Iraque e na Síria é consideravelmente maior do que o estimado anteriormente.
Além disso, segundo o START, é preciso lembrar que a violência terrorista permanece extraordinariamente alta em comparação com tendências históricas. Na década anterior ao 11 de setembro, a frequência e a letalidade dos ataques terroristas, por ano, era inferior a um terço do registrado em 2017.