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      O atendimento médico continua caótico em Porto Príncipe, mesmo com a chegada de vo­­luntários. No Hospital Univer­­sitário, um dos poucos que não desabaram, há amputações sem anestesia e cadáveres abandonados, falta energia, e os corredores, sa­­las e pátios estão su­­perlotados.

      Por falta de recolhimento, os que morrem no hospital são le­­vados a um quarto à parte. Mas, segundo o anestesista espanhol Alberto Lafuente, não há risco higiênico. "Os corpos não provocam epidemia, isso é um mito, a não ser que estejam sobre uma fonte de água. As nossas preocupações são outras.’’

      O aumento da capacidade mé­­dica é uma das maiores prioridades em Porto Príncipe, que perdeu oito hospitais com o terremoto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esti­­ma-se que dezenas de médicos e outros profissionais da saúde te­­nham morrido trabalhando.

      Nos hospitais que ficaram de pé, não cabe mais ninguém, mas não para de chegar gente. No pátio de entrada do hospital, os corpos de uma mulher e de uma criança estavam ontem a poucos metros de tendas com pacientes em estado menos grave e acompanhantes. Outros dois corpos estavam no asfalto da avenida de entrada, cobertos por um plástico branco.

      As principais ocorrências são traumatismo de todo tipo, com vários casos em que é necessário amputar. Lafuente diz que, nos dois primeiros dias, quase todas as amputações foram feitas sem anestesia, por falta de medicamento.

      Pouco antes, chegou ao hospital um menino de quatro anos. De nome Nixon, ele fora resgatado às 10 h por vizinhos de dentro de sua casa, no setor Delmas 32. Estava consciente, mas em estado de choque.

      "O corpo do pai estava em cima dele’’, disse um dos três vizinhos que o resgataram. "A sua mãe e seus irmãos estão de­­saparecidos, ele não tem ninguém, ninguém.’’

      Em volta da criança, que só virava a cabeça ao escutar o seu nome, mas não falava, dezenas de outros pacientes eram atendidos, em meio ao mau cheiro, gri­­tos de dor e rezas.

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