Dois atentados terroristas em comícios eleitorais no Paquistão deixaram um saldo de mais de 130 mortos nesta sexta-feira (13), afirmaram autoridades regionais. As eleições legislativas serão realizadas em 25 de julho em um clima cada vez mais tenso, diante do retorno do ex-premiê Nawaz Sharif ao país.
Os ataques ocorrem no momento em que o governo interino do Paquistão reprimiu aglomerações políticas com Sharif, que foi derrubado do poder pela Suprema Corte no ano passado e condenado por corrupção, em ausência, na semana passada.
Um dos ataques ocorreu em um complexo onde acontecia um comício político em Mastung, a 40 km de Quetta, capital da província do Baluquistão, no sudoeste do país, matando 128 pessoas. Trata-se do ataque mais letal no país em mais de um ano e o terceiro incidente relacionado às eleições nesta semana. O Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque, segundo a agência de notícias do grupo, Amaq.
Segundo Aslam Tareen, chefe da Defesa Civil da província do Baluquistão, um terrorista suicida carregava de oito a dez quilos de explosivos e bolas de metal. O ministro do Interior do Baluquistão, Agha Umar Bungalzai, o ataque visou uma reunião organizada pelo candidato à assembleia provincial Mir Siraj Raisani, que morreu.
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Militantes islâmicos ligados ao Talibã, à Al Qaeda e ao Estado Islâmico operam na província, que faz fronteira com o Irã e o Afeganistão. Também há uma insurgência étnica que luta contra o governo central.
Em outro ataque, uma bomba escondida em uma motocicleta explodiu perto de Bannu (noroeste) quando o comboio de outro candidato passou, matando quatro pessoas e ferindo outras quarenta, segundo a polícia. O político visado, Akram Khan Durrani, representante da coalizão de partidos religiosos Muttahida Majlis-e-Amal (MMA). Durrani, aliado de Sharif, sobreviveu ao ataque.
Na terça (10), um atentado suicida reivindicado pelo Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP, Movimento dos Talibãs Paquistaneses) também visou um comício eleitoral do partido Awami (ANP) em Peshawar (noroeste), matando 22 pessoas, incluindo Haroon Bilour, candidato à assembleia
O Exército paquistanês indicou no início desta semana que planejava a implementação de mais de 370 mil homens para garantir a segurança no dia das eleições.
Prisão de ex-primeiro-ministro
O ex-primeiro-ministro e sua filha Maryam foram presos nesta sexta, ao retornaram de Londres, para enfrentar longas sentenças de prisão, em uma jogada arriscada para aumentar as chances de seu partido antes das eleições de 25 de julho. Ele foi sentenciado a 10 anos de prisão e sua filha, a sete, por não terem provado que o dinheiro usado para comprar apartamentos de luxo em Londres nos anos 1990 não era fruto de corrupção.
O retorno deles pode alterar o cenário eleitoral, marcado por acusações de que o poderoso Exército paquistanês estaria trabalhando por trás das cenas para influenciar o pleito em favor do ex-jogador de críquete Imran Khan, que descreve Sharif como um "criminoso".
Uma marcha reuniu cerca de 40 mil pessoas, liderada pelo irmão de Sharif, Shehbaz, pela cidade de Lahore, desafiando a proibição local de aglomerações públicas. "Que credibilidade essas eleições podem ter quando o governo está tomando ações tão drásticas contra o nosso povo e essa repressão está acontecendo em todo país?", afirmou Sharif no aeroporto de Abu Dhabi, antes de embarcar para o Paquistão.
O terceiro maior movimento político do país, o Partido do Povo do Paquistão, também se somou às críticas, com seu candidato a premiê, Bilawal Bhutto Zardari questionando por que os apoiadores de Sharif não podiam se reunir. "O direito a protestos pacíficos é fundamental em uma democracia", afirmou Bhutto Zardari, filho da primeira-ministra Benazir Bhutto, que foi morta em um comício em 2007.