O homem responsável pelo massacre de sexta-feira na Noruega usou balas projetadas para causar o maior dano possível no ataque que matou 86 jovens entre 14 e 17 anos na ilha de Utoeya, revelou ontem um dos médicos que atenderam as vítimas no Hospital de Ringriket, próximo à capital Oslo.
O número de vítimas fatais no duplo atentado terrorista subiu de 92 para 93, com a morte de um dos feridos no segundo atentado, o tiroteio em um acampamento de verão da juventude do Partida Trabalhista em Utoeya. Sete pessoas foram mortas, cerca de duas horas antes, na explosão de uma bomba nos arredores da sede do governo, em Oslo.
Com relação à gravidade dos ferimentos, o médico Colin Poole, chefe da divisão de cirurgia do Ringriket, afirmou à imprensa internacional que, em pelo menos 16 corpos, não foi sequer possível recuperar as balas. "Aquelas balas mais ou menos explodiram dentro do corpo. (...) Essas balas infligiram danos internos que são absolutamente horríveis", disse.
Projéteis conhecidos como "dum-dum" foram a provável munição usada pelo atirador. São balas mais leves que as comuns, permitem tiros a longa distância e são comumente utilizadas por caçadores.
A polícia continua investigando para determinar se houve "um ou mais" atiradores na ilha de Utoya. Anders Behring Breivik, que foi preso na ilha na própria sexta-feira e é apontado como o assassino em série, disse ontem em interrogatório ter agido sozinho, mas negou ter "responsabilidade criminal", já que considerava suas ações necessárias para "reformar a sociedade". Ele está sujeito a acusações de terrorismo, cuja pena máxima é de 21 anos. Depoimentos de alguns sobreviventes deram a entender que poderia haver outro atirador, e, como os dois ataques foram cometidos com duas horas de diferença, a hipótese mais sólida era de que o suspeito tinha ativado o carro-bomba que explodiu na capital para depois seguir em direção à ilha, situada a cerca de 40 quilômetros da capital.
Documento
Um documento de 1.500 páginas redigido aparentemente por Breivik revela que o ataque já era preparado desde o segundo semestre de 2009. O documento, publicado na internet diariamente, inclui um manual sobre como montar bombas e um discurso contra o Islã e o marxismo.
Nele o rapaz de 32 anos, dono de uma fazenda, detalha os preparativos de sua ação, destacando "o uso do terrorismo como um meio de despertar as massas", e imagina que será lembrado como "o maior monstro nazista desde a Segunda Guerra Mundial". Com várias referências históricas, o manifesto inclui numerosos detalhes da personalidade do agressor, seu modus operandi para fabricar bombas e seu treinamento de tiro, além de um minucioso diário dos três meses que precederam o ataque.
O texto, escrito em inglês, tem o título "A European Declaration of Independence 2083" (uma declaração de Independência Europeia) e é firmado sob o pseudônimo "Andrew Berwick".
"Meu nome, Breivik, remonta à época anterior à dos vikings. Behring é um nome germânico pré-cristão que deriva da palavra Behr, que em alemão significa urso [...] e Anders [Andreas] é o equivalente escandinavo de [...] Andrew", explica.
Alvos
O suspeito também dava indicações de onde atacaria. "Um alvo prioritário é a reunião anual do partido socialista/social democrata", diz o texto, que também explica como montar uma empresa de fachada, mineradora ou agrícola, para adquirir explosivos.
O documento acaba assim: "Acredito que será minha última postagem. Estamos na sexta-feira, 22 de julho, às 12h51", apenas três horas antes da explosão de uma bomba no centro de Oslo e do posterior ataque à colônia de férias do Partido Trabalhista.