Perfil
Chen Guangcheng luta contra abusos de políticas do governo
Frequentemente chamado de "advogado dos descalços", Chen Guangcheng ficou conhecido por sua atuação em questões de direitos humanos em áreas rurais da China.
Cego desde a infância, o ativista de 40 anos estudou Direito sozinho e se firmou como defensor dos direitos das mulheres e dos pobres.
Guangcheng é um dos mais duros críticos do governo comunista, denunciando abusos na política de planejamento familiar oficial, muitas vezes envolvendo abortos forçados.
Em 2005, seu trabalho chegou ao conhecimento da comunidade internacional por organizar uma ação coletiva contra a aplicação excessiva da política do filho único. Como resultado do processo, foi colocado sob prisão domiciliar.
Em 24 de agosto de 2006, Chen foi condenado a quatro anos e três meses de prisão, sendo libertado em 2010.
Depois de receber apoio de organizações internacionais, como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, ele fugiu de seu domicílio no último dia 22 e se refugiou na embaixada dos EUA, em Pequim.
Alegando que o governo chinês ameaçou espancar sua mulher "até a morte", o dissidente cego Chen Guangcheng deixou ontem a embaixada norte-americana em Pequim após seis dias refugiado, e se internou num hospital da cidade, onde reencontrou a família.
As circunstâncias da saída dele são confusas, porém. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que visita Pequim, disse que os EUA ajudaram Chen em seus "entendimentos" com o governo chinês.
Mas em entrevista por telefone à Associated Press, do hospital, o dissidente afirmou que foi coagido a deixar a representação e quer se exilar no exterior por temer pela sua segurança.
Ele estaria recebendo atenção médica por causa de ferimentos da fuga, quando caminhou por quase um dia.
Em entrevista à CNN, Chen disse ter pedido ao presidente Barack Obama para deixar o país "o quanto antes". O episódio pode resultar em um incidente diplomático entre as duas maiores economias do mundo.
O dissidente, que chegou ao hospital Chaoyang acompanhado do embaixador norte-americano, Gary Locke, disse que só saiu da representação diplomática porque os negociadores dos EUA repassaram uma ameaça do governo de que sua mulher seria morta caso não deixasse o refúgio.
Na versão dos EUA, um diplomata disse ao ativista que sua mulher, Yuan Weijing, havia sido trazida a Pequim, mas que o governo a devolveria à sua cidade natal, na Província de Shandong, caso ele continuasse na embaixada.
Chen diz que o casal era rotineiramente espancado desde que ele foi detido pela primeira vez, em 2005. Ele irritou o governo ao defender mulheres forçadas a abortar devido à "política do filho único". A família ficou em prisão domiciliar por 19 meses, até a fuga espetacular do ativista, há 11 dias.
Segundo os EUA, Chen deixou a embaixada após um acordo com a China que assegurava sua segurança e previa a investigação de maus-tratos. Advogado autodidata, ele iria estudar Direito numa universidade em Tianjin, distante de sua província natal.
ReaçãoPequim acusa os EUA de induzirem a opinião pública ao erro
AFP
A China pediu ontem que os Estados Unidos parem de "induzir a opinião pública ao erro" em relação ao caso Chen Guangcheng. O apelo é uma resposta à declaração da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, sobre o compromisso norte-americano com o ativista dos direitos civis.
"Os Estados Unidos não devem mascarar e jogar sobre os outros suas próprias responsabilidades nesse caso", declarou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Liu Weimin, em resposta a um comunicado de Hillary.
O representante do governo chinês disse ainda que "os Estados Unidos deviam tirar lições desse caso, pensar em sua política e em seus métodos, tomar medidas para evitar a repetição desse tipo de incidente, assim como medidas concretas para proteger as relações sino-americanas em seu conjunto".
A reação chinesa veio a público algumas horas da abertura de um diálogo estratégico entre chineses e americanos. Esse diálogo, que será realizado hoje e amanhã, e do qual participará também o secretário norte-americano do Tesouro, Timothy Geithner, abarca diversos temas econômicos e diplomáticos.
Hillary Clinton havia declarado que "o governo dos Estados Unidos e o povo americano se comprometem a ficar ao lado de Chen e de sua família nos próximos dias, semanas e anos".
A China também ressaltou descontentamento com o refúgio concedido pela embaixada dos EUA a Chen.