Depois de ser acusada por seus pais de se passar por negra durante anos, a ativista norte-americana Rachel Dolezal renunciou ontem ao posto de representante de uma das mais conhecidas associações de defesa dos direitos dos negros nos EUA.
Em comunicado, Dolezal, de 37 anos, diz que deixará a presidência do escritório regional da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) em Spokane (Washington). Em seu lugar assumiu a vice Naima Quarles-Burnley.
“Enfrentamos desafios urgentes atualmente. E, ainda assim, o foco do diálogo se voltou inesperadamente para a minha identidade pessoal em um contexto de definição de raça e etnia”, disse ela em nota.
Alemã e tcheca
O caso ganhou destaque depois de, na quinta-feira da semana passada, os pais de Rachel, Ruthanne e Larry (ambos brancos), afirmarem a um canal de TV que ela tem ascendência alemã e tcheca, com traços “fracos” de indígenas.
“A Rachel quis ser alguém que não é. Ela escolheu não ser ela mesma, mas apresentar-se como uma mulher afro-americana ou birracial. E isso não é verdade”, disse a mãe. As duas não mantêm contato.
A reportagem, do canal local KREM 2 mostrou fotos de Dolezal na adolescência, com a pele branca e os cabelos loiros e lisos. Hoje, ela se apresenta com o cabelo afro e a pele mais morena.
No sábado, um dos irmãos adotivos de Rachel, Ezra, que é negro, disse que foi instruído pela irmã a não “destruir seu disfarce” ao visitá-la, há três anos. Ele vive com os pais de Rachel no estado de Montana. “Ela me disse para não contar a ninguém sobre Montana ou sua família lá. Afirmou que estava começando uma nova vida e que uma pessoa lá [em Spokane] seria seu pai negro”, afirmou.
Dolezal costumava afirmar que era filha de um casal birracial. Em uma publicação de janeiro, a página da NAACP no Facebook trazia uma foto da ativista ao lado de um homem negro, identificado como seu pai.
Em outro post, de 2013, em seu perfil pessoal, ela mostra um penteado afro com a legenda “Saindo com o meu ‘look’ natural no aniversário de 36 anos”.
Dolezal frequentou a Universidade Howard, historicamente associada aos negros nos EUA. Ela leciona Estudos Africanos em uma universidade local e é casada com um homem negro. Integrante da sucursal da NAACP onde Dolezal era presidente, Kitara Johnson saudou a demissão dela, que havia sido eleita para o posto havia seis meses. “Isso é a melhor coisa que pode acontecer agora”, disse.