O acordo para a paz no leste da Ucrânia negociado por lideranças internacionais em Genebra (Suíça) já deu sinais de fragilidade um dia depois de seu anúncio. Ativistas pró-Rússia na região informaram ontem que não o reconhecem e, por isso, vão continuar nos prédios públicos ocupados desde a semana passada.
A desocupação foi uma das condições do acerto selado na quinta-feira por Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Ucrânia após sete horas de reunião na Suíça. As lideranças disseram que era medida consensual entre todas as partes envolvidas desarmar esses grupos e tirá-los dos espaços invadidos.
A interferência da Rússia para convencer esses militantes a recuar seria fundamental para o sucesso do acordo de Genebra, mas o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem dito que não tem relação com esses grupos e que cabe somente à Ucrânia solucionar o impasse interno até porque intermediar, para Moscou, seria admitir elo com o movimento.
Como os separatistas, que não se identificam, resistem a negociar, as promessas feitas na Suíça se enfraquecem. A situação mais crítica continua sendo em Donetsk, onde um grupo declarou uma "república independente".
Um porta-voz dos separatistas disse que não só eles, mas a cúpula do governo da Ucrânia também deve deixar os prédios públicos, inclusive o presidente interino, Oleksander Turchinov, e o premiê, Arseni Yatseniuk. Eles assumiram o país após a queda do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, pró-Rússia, em fevereiro.
"Entendemos que todos devem desocupar os prédios e Yatseniuk e o presidente Turchinov deveriam fazê-lo primeiro", disse o porta-voz. O grupo avisou que ninguém negociou em seu nome em Genebra, incluindo a própria Rússia.
Kiev restringe a entrada de cidadãos russos
A Ucrânia restringiu a entrada de cidadãos russos em seu território para supostamente evitar a infiltração de militantes no leste do país, onde a população pró-Rússia se revoltou contra o governo.
Segundo informou ontem o portal russo Gazeta.ru, que cita serviços de fronteira da cidade ucraniana de Jarkov, cerca de 70 pessoas procedentes da Rússia foram proibidas nas últimas 24 horas de cruzar a fronteira entre os dois países, e por isso tiveram que descer do trem em que viajavam.
A informação foi confirmada por patrulhas fronteiriças russas da estação Kazachia Lopan, a 40 quilômetros de Jarkov. Mulheres e crianças também não puderam entrar na Ucrânia, o que não corresponde com as informações divulgadas pela maior companhia russa, Aeroflot, que anunciou que Kiev tinha apenas proibido a entrada de homens russos entre 16 e 60 anos.
A chancelaria russa, por sua vez, exigiu explicações da Ucrânia e prometeu "estudar medidas de resposta". O governo ucraniano acusa os russos de articularem a invasão aos prédios públicos.