Manifestantes pró-Rússia tomaram neste domingo (6) as sedes de várias instituições estatais no leste da Ucrânia em protesto contra a gestão das novas autoridades que derrubaram em fevereiro passado o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich. Um grupo de ativistas ocupou a sede da administração da região de Donetsk, içou bandeiras russas sobre o edifício e pendurou no edifício cartazes do movimento separatista "República de Donetsk".
Veja como foram os protestos em Donetsk
Segundo a imprensa local, centenas de manifestantes cercaram o prédio entoando gritos como "Crimeia! Rússia! Donbass! (região mineradora do sudeste da Ucrânia)", enquanto a polícia levou à região um canhão de água. Nos megafones, os separatistas exigiram uma sessão extraordinária da administração local para convocar um referendo para a adesão de Donetsk à Rússia. Caso não sejam atendidos, ameaçaram dissolver a administração e escolher novos deputados que representem todos os setores políticos da região.
A tomada da sede administrativa, terceira do mês, aconteceu após uma manifestação pró-russa na região, estado de origem do deposto presidente Viktor Yanukovich. Segundo testemunhos, a polícia fez um corredor para os ativistas, cedendo a suas pressões, para permitir que chegassem de forma ordenada ao edifício.
Após a ocupação da administração, as autoridades abriram uma causa penal. "Iniciamos a investigação sobre as desordens públicas. Estão sendo definidos os participantes mais ativos e os autores do ataque", afirma um comunicado da Procuradoria-Geral da região de Donetsk.
Paralelamente, segundo várias informações na imprensa ucraniana, na cidade de Lugansk (leste da Ucrânia), um grupo de ativistas pró-Rússia tomarou a sede do Serviço de Segurança da Ucrânia. Os ativistas, muitos deles mascarados, exigiram a libertação de seis companheiros, entre eles, Alexander Jaritónov, detido por participar dos protestos contra as novas autoridades.
Nas negociações com os manifestantes estiveram presentes o governador da região, Mikhail Bolótskij, e o chefe da polícia local, Vladimir Guslavski. Esse último foi, por fim, à prisão onde estavam recrutados os ativistas e os libertou aparentemente sem a ordem judicial necessária para entregá-los a seus partidários sob gritos de alegria e aplausos.
Nos confrontos de Lugansk, duas pessoas ficaram feridas: uma mulher foi hospitalizada com contusões na cabeça e um policial foi levado do edifício de maca até uma ambulância. Além disso, na cidade de Carcóvia (nordeste do país), houve enfrentamentos locais entre os simpatizantes com as novas autoridades e as forças pró-Rússia.
Segundo os testemunhos, centenas de separatistas enfurecidos atacaram um grupo dos partidários do Maidan, o principal cenário da recente revolução ucraniana. A polícia interveio e isolou cerca de dez pessoas no centro da cidade, segunda maior da Ucrânia, para protegê-los da agressão de seus "oponentes políticos". Após quase uma hora e meia de tensão os agentes de ordem pública conseguiram evacuar aos ativistas pró-Ocidente, alguns deles brutalmente agredidos.
Essa não é a primeira vez que ativistas pró-Rússia tomam sedes de instituições estatais em Donetsk e outras cidades no leste da Ucrânia, onde ainda são fortes os ânimos pró-Rússia, o que gera temor nas autoridades ucranianas sobre a possibilidade da repetição do cenário da Criméia.
A península da Criméia foi anexada por Moscou, o que foi ratificado em referendo em 16 de março, sob o argumento de que sua população, majoritariamente russa, é ameaçada por forças radicais ultranacionalistas, braço armado da recente revolução ucraniana. Vários comícios pró-Rússia aconteceram neste domingo no leste da Ucrânia e cujos participantes exigem a cassação das novas autoridades ucranianas, que chegaram ao poder após derrubar Yanukovich, refugiado agora na Rússia.
Viagem cancelada
O presidente em exercício da Ucrânia, Oleksander Turchinov, cancelou uma viagem para lidar com os protestos no leste do país, informou o serviço de imprensa parlamentar neste domingo. A declaração informa que Turchinov, que iria visitar a Lituânia na segunda-feira (7), participa neste domingo de uma reunião de emergência com os chefes dos serviços de segurança.