Um "Atlas da Criação" ilustrado está causando polêmica na Turquia, ao afirmar que a teoria da evolução de Charles Darwin é a verdadeira causa do terrorismo. O curioso é que o livro chega por correio, sem ser solicitado, a escolas e bibliotecas.

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A edição tem 768 páginas com fotografias e um texto simples que tenta provar que Deus criou o mundo com todas as suas espécies. À primeira vista, parece ser obra de criacionistas americanos - cristãos fundamentalistas que acreditam que o mundo foi criado em seis dias como é narrado pela Bíblia.

Mas o nome do autor, Harun Yahya, revela a surpresa dentro do livro. Trata-se de criacionismo islâmico, um movimento baseado na Turquia predominantemente muçulmana, que tem uma influência com a qual os criacionistas americanos apenas poderiam sonhar.

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O "Atlas da Criação" traz imagens que comparam fósseis com animais de hoje para argumentar que Alá criou toda a vida como ela é e que a evolução nunca aconteceu.

Há ainda um artigo que afirma que o darwinismo, ao ressaltar "a sobrevivência dos mais adaptados", inspirou o racismo, o nazismo, o comunismo e o terrorismo.

"A raiz do terrorismo que atormenta nosso planeta não é nenhuma das religiões divinas, mas o ateísmo, e a expressão do ateísmo em nossos tempos (é) o darwinismo e o materialismo", diz o texto.

Recentemente, uma escola de Istambul recebeu três cópias sem esperar.

- É muito bem feito, com fotos magníficas. Uma ferramenta estilosa da propaganda criacionista - opinou o diretor da instituição, que pediu para não ser identificado.

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O pseudônimo Harun Yahya é provavelmente usado por um grupo de escritores e mais 200 livros já foram publicados sob esta identidade.

O criacionismo é tão amplamente aceito no país que a Turquia ficou em último lugar numa recente pesquisa realizada em 34 nações sobre a aceitação da evolução entre a população.

- O darwinismo está morto - afirmou Kerim Balci, do Fethullah Gulen, um movimento islâmico moderado sem ligação com os criacionistas que produziram o atlas.

Cientistas afirmam que muçulmanos fervorosos no governo estão tentando pressionar o sistema educacional turco, que tem tradicionalmente uma abordagem secular.

O professor de biologia Aykut Kence, da Universidade Técnica do Oriente Médio em Ancara, disse que neste ano foi eliminado da programação de aulas da oitava série o tempo para discutir a evolução.

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- Os estudantes vão apenas aprender que existe uma teoria chamada evolução, defendida por Darwin no século XIX - contou ele. - No entanto, foram incluídas visões de pensadores islâmicos da Idade Média sobre evolução e criação.

Uma dose de religião

Como a Bíblia, o Alcorão afirma que Deus fez o mundo em seis dias e criou o primeiro homem, Adão, do pó. Alguns detalhes são diferentes, mas a idéia é essencialmente a mesma. Mas, ao contrário do que ocorreu no Ocidente, a teoria da evolução não enfraqueceu a tradicional história da criação para muitos muçulmanos.

- A ciência dificilmente é um assunto na Turquia, então a evolução praticamente não pôde ser um assunto - afirmou o professor de geologia Celal Sengor, da Universidade Técnica de Istambul.

Entretanto, o darwinismo se tornou uma questão durante uma crise política no país entre esquerda e direita em 1980, antes de um golpe militar. O trabalho de Darwin foi acusado de ser um complemento ao de Karl Marx.

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- Parecia que Marx e Darwin estavam juntos, dois caras de barba longa espalhando idéias que faziam as pessoas perder sua fé - lembrou o jornalista Mustafa Akyol, de Instambul.

Após o golpe, o governo conservador imaginou que uma dose de religião poderia reforçar a luta contra a esquerda extremista.

Em 1985, um parágrafo sobre o criacionismo como uma alternativa à evolução foi acrescentado a textos científicos para o ensino médio e o livro americano "Criacionismo científico" foi traduzido para o turco.

No início da década de 90, líderes do movimento criacionista nos EUA foram à Turquia para realizar várias conferências contra a evolução.

Desde então, foram produzidos vários livros contra o darwinismo, seguindo uma linha desenvolvida no país, com uma clara mensagem política.

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