As críticas à atuação da polícia durante o massacre em uma escola primária em Uvalde, nos Estados Unidos, aumentaram nesta quinta-feira (26). As autoridades do Texas reconheceram que o atirador entrou no prédio sem enfrentar qualquer tipo de resistência.
Enquanto os atos solenes em memória das 19 crianças e duas professoras mortas no tiroteio de terça-feira (24) aconteciam a poucos quilômetros de distância, na praça central de Uvalde, as autoridades enfrentavam cada vez mais questionamentos sobre sua resposta ao incidente.
"Nosso trabalho é relatar os fatos e ter respostas, mas ainda não as temos", admitiu em entrevista coletiva o diretor regional para o sul do Texas do Departamento de Segurança Pública do estado, Víctor Escalón.
Frustração crescente
A impressão de que a polícia agiu de forma lenta ou inadequada foi reforçada nas redes sociais e entre alguns moradores de Uvalde, principalmente depois que as autoridades confirmaram que o atirador passou cerca de uma hora em uma sala de aula antes de ser morto a tiros pelos agentes.
Circulam na internet vários vídeos gravados na terça-feira em que pais e familiares de alunos são vistos nas imediações da escola gritando e confrontando a polícia por, em sua opinião, não intervir enquanto acontecia um tiroteio no lado de dentro.
Escalón esclareceu nesta quinta-feira (26) que, ao contrário do que haviam indicado fontes do distrito escolar, não houve um confronto entre um guarda de segurança e o atirador, identificado como Salvador Ramos, quando ele entrou na escola.
"Não é verdade. Ele entrou na escola sem enfrentar qualquer resistência", ressaltou Escalón. O oficial também reconheceu que "aparentemente" a fechadura de uma das portas da escola foi encontrada aberta quando Ramos chegou, por razões que ainda estão sendo investigadas.
Uma hora dentro da escola
Depois de dar um tiro no rosto da avó em casa, Ramos entrou em um veículo e dirigiu até as proximidades da escola primária, onde bateu o carro por volta das 11h28.
De lá, caminhou com um rifle e munição por 12 minutos até entrar na instituição, por volta das 11h40. Quatro minutos depois, a polícia entrou na escola.
Em sua caminhada até a escola, Ramos atirou em duas pessoas que estavam em uma funerária do outro lado da rua, sem causar ferimentos.
Quando os policiais locais chegaram ao local, ouviram tiros e identificaram a sala de aula onde estava o atirador. No entanto, não conseguiram chegar lá, porque Ramos atirava contra eles.
Os agentes pediram reforços e iniciaram a evacuação de alunos e professores do restante da escola, enquanto Ramos permaneceu entrincheirado na sala de aula onde disparou indiscriminadamente contra os presentes, matando 19 crianças e duas professoras, além de ferir muitas outras.
Era por volta das 12h40 quando os agentes especiais da Patrulha Fronteiriça chegaram até a sala e conseguiram abater o atirador de 18 anos.
"Como é possível?"
Muitos moradores de Uvalde não entenderam por que não houve uma resposta mais rápida. O distrito escolar dobrou recentemente seu orçamento de segurança e treinamento de policiais para responder a tiroteios,.
"Temos que treinar nossos policiais para que sejam capazes de responder a algo assim em vez de esperar", disse o pároco Daniel Myers, que foi rezar nesta quinta-feira na praça central de Uvalde, onde foram instaladas cruzes em homenagem aos mortos.
Myers comentou que, no dia do crime, ele se aproximou da escola com sua esposa e encontrou "uma situação de reféns" em que ninguém explicou aos parentes o que estava acontecendo até que o governador do Texas, Greg Abbott, apareceu na TV e "anunciou o número de vítimas".
"Como pode ser que não soubemos antes? Havia uma avó às 10 da noite que ainda não sabia onde estava seu ente querido", lamentou.
Sua queixa foi semelhante à de Ryan Ramirez, cuja filha de 10 anos, Alithia, foi morta no tiroteio e que, durante uma vigília na quarta-feira, disse estar "bastante frustrado" porque "a maioria dos pais descobriu" o que aconteceu com seus filhos por volta das 23h de terça-feira.
Myers, que nesta quinta-feira levou comida a uma família que tinha perdido dois filhos no tiroteio, insistiu que as explicações das autoridades, pelo menos até agora, não são suficientes. “Espero que a polícia de Uvalde tenha aprendido alguma coisa com tudo isto, e que empreenda mudanças”, declarou o padre.
Enquanto isso, as famílias continuaram nesta quinta-feira os preparativos para os funerais das vítimas, que ainda não têm data definida, e a Casa Branca anunciou que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visitará Uvalde neste domingo com sua esposa, Jill.
Também hoje, a cidade recebeu outra notícia triste, após a confirmação de que Joe García, marido de uma das professoras assassinadas na terça-feira, Irma García, morreu de ataque cardíaco devido à tristeza pela perda da esposa e deixou quatro filhos órfãos, de 23, 19, 15 e 13 anos.
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