Manifestantes egípcios voltaram a entrar em confronto com a polícia na madrugada desta quarta-feira (23), após o chefe da junta militar do país anunciar a antecipação da transferência do poder para um presidente civil, na tentativa de conter protestos que já deixaram 37 mortos. Um homem foi morto durante os confrontos em Alexandria, segundo maior cidade do país. O marechal Mohamed Hussein Tantawi fez na terça-feira (22) um claudicante discurso pela TV em que prometeu eleições presidenciais em junho de 2012, seis meses antes do prazo previsto pela junta militar que substituiu o presidente Hosni Mubarak, deposto em fevereiro. A junta confirmou a realização, a partir da segunda-feira (28), da primeira eleição parlamentar livre em várias décadas no país. Também aceitou a renúncia do primeiro-ministro Essam Sharaf e do seu gabinete, que haviam desencadeado os atuais protestos ao apresentarem um anteprojeto constitucional que blindaria os militares de qualquer supervisão civil. Mas Tantawi irritou muitos manifestantes no Cairo e em outras cidades ao sugerir um referendo sobre a antecipação do fim do regime militar - algo que muitos viram como uma manobra para dividir os jovens ativistas e agradar aos muitos egípcios que receiam mais distúrbios. "Fora, fora!", gritaram manifestantes na Praça Tahrir após escutarem o discurso de Tantawi, num clima de indignação que lembra os protestos que levaram à queda de Mubarak. "O povo quer derrubar o marechal" era outro refrão ouvido. A tropa de choque que vigia ruas que levam ao Ministério do Interior, perto da Praça Tahrir, lançaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes que atiravam pedras. Alguns ativistas disseram que a polícia usou também munição de chumbo e borracha. "Assim que o dia raiou eles começaram a atirar, porque conseguiram nos ver. À noite eles não conseguiam ver", disse o marceneiro Tareq Hussein Zaki, de 32 anos.
As ruas ficaram tomadas por máscaras cirúrgicas descartáveis, que os manifestantes usavam para se proteger do gás lacrimogêneo. Um constante fluxo de ambulâncias continuava retirando feridos do local. Na Praça Tahrir, onde centenas de pessoas passaram a noite acampadas, alguns voluntários recolhiam o lixo em sacos ou o queimavam em montinhos. Outras pessoas distribuíam alimentos. Fardado e com a fala hesitante, Tantawi, de 76 anos - dos quais 20 como ministro da Defesa de Mubarak - disse aos 80 milhões de egípcios que "o Exército está pronto para voltar aos quartéis imediatamente, se o povo desejar isso por meio de referendo popular, se preciso for." Não ficou claro, no entanto, como esse referendo seria realizado, e qual seria a alternativa à junta militar até a realização das eleições presidenciais em junho. A eleição parlamentar, que acontece em várias etapas, só irá terminar em janeiro de 2012.