Dezenas de jornalistas hondurenhos e ativistas de defesa dos direitos humanos foram atacados ou ameaçados com violência tanto pelos militares no poder como pelos partidários do presidente deposto, Manuel Zelaya, informou uma entidade de observação da imprensa nesta segunda-feira (3).
Honduras fechou várias rádios e emissoras de televisão pró-Zelaya depois do golpe do Exército que derrubou o presidente, no fim de junho, e colocou no poder um governo interino liderado por Roberto Micheletti.
"A liberdade de expressão é cada vez mais limitada e as condições gerais para o trabalho dos jornalistas e a atividade dos meios de comunicação estão se deteriorando, e ainda podem ficar piores bem depressa. Todo mundo está muito tenso", disse Agnes Callamard, diretora da Article 19, um grupo de defesa da mídia, com sede em Londres, em entrevista à Reuters.
"Os jornalistas recebem ameaças e vêm sendo intimidados por e-mail e ligações telefônicas. Há alegações de execuções extrajudiciais por parte de forças de segurança do Estado", acrescentou.
Callamard acabou de voltar de uma missão de verificação em Honduras, um país pequeno e pobre da América Central, com economia baseada na exportação de têxteis e café. Ela disse que os ativistas em defesa dos direitos humanos não têm condições de investigar os abusos denunciados em áreas rurais por causa dos bloqueios dos militares nas estradas e toques de recolher impostos desde o golpe.
Ela disse que a população de Honduras está ficando cada vez mais polarizada e é provável que haja mais violência.
"As tensões se fortificando, censura pesada, cada vez mais situações de confronto, todos os ingredientes estão lá para que uma grande e sanguinolenta crise irrompa em Honduras" afirmou Callamard. "Está ficando pior em termos do número de pessoas envolvidas e da sua determinação. É necessário que haja apenas algumas fagulhas para que isso venha à tona ."
O impasse político se agravou com a recusa de Micheletti de permitir o retorno de Zelaya para completar seu mandato presidencial, que termina em janeiro, conforme pediu o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, mediador da crise.
Zelaya é aliado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e foi deposto porque tentava realizar um referendo para mudar a Constituição, medida considerada ilegal pela Suprema Corte. Os críticos de Zelaya dizem que ele estava tentando aprovar a extensão do mandato presidencial, o que ele nega. A Constituição do país não permite a reeleição.
O presidente deposto prometeu no sábado retornar ao poder por meios pacíficos e negou que esteja armando grupos de partidários perto da fronteira com a Nicarágua.
Nenhum país reconheceu o governo de Micheletti e as eleições presidenciais estão marcadas para novembro. Mas Callamard diz que não há condições para eleições livres e justas.
"A mídia é tendenciosa e o acesso a informações imparciais é limitado. Por isso os cidadãos não podem estar bem informados para tomar decisões", disse. "Sinto que a situação está piorando. Não há dúvida de que haverá mais violência."
Micheletti com empresários
O presidente interino, Roberto Micheletti, insistiu nesta segunda que uma comissão internacional visite Honduras para ajudar a resolver a crise e repudiou as contínuas críticas provenientes do exterior, que se traduziram em sanções econômicas e na expulsão do país da Organização dos Estados Americanos (OEA).
"O mundo inteiro que venha ver o que está acontecendo em Honduras (...) isso é o que nos interessa, que o mundo comece a se dar conta de que nós estamos fazendo as coisas corretamente e dentro da Constituição," disse Micheletti após uma cerimônia na casa presidencial.
Analistas têm advertido que um estancamento na busca de uma saída para o conflito poderá gerar distúrbios.
Dois partidários de Zelaya foram mortos em manifestações depois do golpe de Estado. Outras duas pessoas morreram a facadas em incidentes separados que, segundo simpatizantes de Zelaya, estariam relacionados à violência política, o que é negado pela polícia e pelo governo interino.