Passado o clima de euforia decorrente do resgate bem-sucedido dos 33 mineiros em Copiapó, após 69 dias de preparo para a retirada, crescem as críticas às condições de trabalho na mina San José. A ponderação atinge até o próprio resgate, que alguns consideram que poderia ter sido mais veloz.
O geólogo da UFPR Renato Lima contesta a versão quase unânime de que a retirada representou um primor técnico. Ele defende que uma empresa mineradora precisa prever de antemão as possibilidades de acidente e já ter preparadas alternativas de resgate. "Não dá para esperar o acidente ocorrer e só então fazer todo o plano", disse à Gazeta do Povo.
Que as condições de segurança eram insuficientes, poucos contestam. Entre os principais problemas apontados está a falta de uma saída de emergência, que é obrigatória em outros países, incluindo o Brasil. "Provavelmente, houve uma falha dos órgãos de governo do Chile em fazer a fiscalização dos protocolos e da metodologia de segurança da mina", disse o consultor em engenharia mineira Décio Casadei à revista Veja.
Os próprios mineiros não se deixaram seduzir pelo alívio do resgate e pelo afeto do casal presidencial chileno, que os esperava à saída do túnel, e colocaram a boca no trombone. O segundo mineiro a sair, Mario Sepúlveda, foi o primeiro a criticar as condições de trabalho: "Este país tem de entender que é necessário haver mudanças", disse.
Dos seis socorristas que desceram para preparar o trajeto dos mineiros de volta à superfície, três se declararam estarrecidos com as condições enfrentadas pelos trabalhadores nas entranhas da mina. Eles relataram um "calor insuportável", além do desconforto causado pela umidade próxima de 100% e da falta de elementos mínimos de segurança. "Trabalhar a essa temperatura durante 12 horas... Acho que nenhum ser humano poderia voltar a fazê-lo", afirmou Manuel González, último a deixar a mina, na madrugada de quinta-feira.
Em reconhecimento às condições de risco a que são expostos os trabalhadaores, o presidente Sebastián Piñera afirmou que o país modificará padrões para garantir mais segurança.
"Não podemos garantir que não haverá mais acidentes. Mas podemos garantir que nunca mais se trabalhará em condições tão desumanas como na mina San José", afirmou.
O ministro do Interior chileno, Rodrigo Hinzpeter, reforçou a promessa: "Nos comprometemos que nunca mais um acidente se produza por falta de fiscalização do Estado", afirmou.