A revolta pela morte de 74 pessoas em uma partida de futebol na quarta-feira provocou novos distúrbios e mais mortes ontem no Egito, enquanto o país tentava entender o que levou à pior tragédia esportiva em 15 anos.
Para os milhares de manifestantes que foram às ruas, a resposta é clara: a culpa é da junta militar no poder, incapaz de manter a segurança desde a queda do ex-ditador Hosni Mubarak, há um ano.
Pelo menos três pessoas morreram e mais de 1.500 ficaram feridas em confrontos com a polícia que começaram na quinta e continuaram ontem. Os maiores protestos foram no Cairo e na cidade de Suez, a 130 km da capital.
No Cairo, os manifestantes foram rechaçados pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo ao tentar invadir o Ministério do Interior. O protesto foi liderado pelos "ultras", como é conhecida a facção radical de torcedores do Al-Ahly, o time mais popular da capital.
Os torcedores do clube foram as principais vítimas da tragédia no estádio de Port Said (220 km a nordeste do Cairo), durante o jogo contra o time local, Al-Masry.
Os dirigentes dos "ultras" dizem que estavam vulneráveis em Port Said, longe de sua base no Cairo e cercados por um ambiente hostil. "Fomos impedidos de deixar o estádio enquanto éramos massacrados por agentes da policia", disse Mahmoud Abu Shark, um dos fundadores da torcida.
"Os portões do estádio sempre abrem 15 minutos antes do final da partida. Desta vez, porém, ficaram trancados enquanto o Exército friamente nos assistia morrer."
Para Abu Shark, apenas a queda da junta militar encerrará as mobilizações que sacodem o Cairo. "Passou-se um ano e nada mudou, o regime é o mesmo e apenas as mobilizações poderão vingar os nossos mártires", afirmou.
Prédio incendiado
No auge dos protestos de hoje, um prédio do governo foi incendiado.
Em Suez, 3 mil pessoas cercaram a sede da polícia depois de saber que entre os mortos havia um morador da cidade. Forças de segurança responderam com bombas de gás e tiros, de acordo com a Associated Press. Duas pessoas foram mortas.
Em comunicado publicado em sua página no Facebook, a junta militar alertou que o país atravessa "a etapa mais perigosa e importante de sua história" e acusou elementos "externos e internos" pela escalada de violência.