Caracas A polêmica aberta com o fim das transmissões da Rádio Caracas Televisão (RCTV) na Venezuela deu visibilidade para uma oposição ao presidente Hugo Chávez muito mais palatável para quem não tem convicções políticas radicais. Saíram de cena as classes políticas tradicionais e as associações empresariais desgastadas aos olhos de boa parte da população e entraram os estudantes universitários, atores de novela e outras celebridades. Na manhã ontem, até o capitão da seleção venezuelana de futebol, José Manuel Rey, ligou para a emissora Globovisión, única que se mantém na oposição ao presidente, para lamentar a saída do ar da RCTV.
As manifestações são muitas e emocionadas. Protagonista da novela mais popular do país, Mi Prima Ciela, a ex-miss Monica Spear, chorou na frente das telas no domingo, último dia da emissora no ar, e o ator veterano Franklin Virgüez ajoelhou-se ontem num programa de televisão para pedir a volta das transmissões. Mal comparando, é como se o Antônio Fagundes e Cláudia Abreu viessem a público implorando para que o presidente lhes devolvesse o emprego.
"Esse tipo de manifestação tem um grande apelo não só na classe média que é igualmente crítica ao presidente e aos políticos da oposição até entre os chavistas, que cresceram vendo os humorísticos e novelas dessa emissora privada", disse o cientista político Herbert Koeneke, da Universidade Simón Bolívar. "Nunca tivemos uma divisão tão profunda na base de apoio do presidente."
Outro lado
Os protestos, no entanto, não são apenas contra Chávez. Desde domingo ocorreram várias manifestações no país a favor da decisão do governo. Das 182 pessoas em 97 manifestações, segundo os órgãos de segurança venezuelanos, apenas 15 delas participaravam de atos de apoio à RCTV. O ministro citou como exemplo uma manifestação pacífica de estudantes pró-governamentais realizada terça-feira em Caracas que, segundo ele, "foi cinco vezes maior que a maior da oposição".
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