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O aumento do apoio a um partido de extrema direita com foco no combate à imigração fez com que a Holanda enfrente a perspectiva de uma limitada coalizão de governo com quatro partidos. O Partido de Liberdade de Geert Wilders - que quase triplicou o número de cadeiras no Parlamento de 150 integrantes, indo de nove para 24 parlamentares - deve se tornar um incômodo ao lado de qualquer coalizão governamental que surja a partir das eleições de quarta-feira. Contados praticamente 100% dos votos nesta quinta-feira, o Partido Liberal de centro-direita (VVD) de Mark Rutte, tinha 31 cadeiras, ante 30 do Partido Trabalhista de centro-esquerda. O partido de Wilders ficou em terceiro, conquistando 24. O VVD de Rutte, como ficou em primeiro, deverá ter a prioridade para formar um novo governo.

Este aumento no apoio ao Partido da Liberdade ultrapassou a maioria das previsões e deixou os principais partidos com dificuldade para forma uma coalizão. Economistas temem que isso possa significar atrasos e comprometer cortes no orçamento e reformas econômicas. O Partido da Liberdade de Wilders é uma dissidência do VVD, de centro-direita, de quem se separou 2006 e ao qual acusa de ser muito brando na questão da imigração. Os Liberais querem reduzir o déficit do orçamento do governo, de 6,6% do Produto Interno Bruto (PIB), com o corte de empregos estatais, enquanto os Trabalhistas querem subir os impostos para os mais ricos.

"O fato de o Partido da Liberdade, de Wilders, ter conquistado mais cadeiras do que as pesquisas de intenção de voto previam pode ser em parte explicada pela relutância dos eleitores em admitir que votariam num candidato controverso por causa de questões sociais", disse Alfred Pijpers, pesquisador político da Clingendael, o Instituto de Relações Internacionais da Holanda.

O fenômeno é conhecido como efeito Bradley, uma referência a Tom Bradley, prefeito de Los Angeles que perdeu a disputa pelo governo da Califórnia em 1982, apesar de aparecer na frente nas pesquisas.

Pijpers disse também que o aumento da popularidade de Wilders pode ser atribuída a uma moderação de seu discurso nas últimas semanas de campanha. "Ele começou a sorrir mais e deixou de lado sua forte retórica anti-islâmica", disse Pijpers. Independentemente da razão que elevou o número de votos no partido, o sucesso do Partido da Liberdade complica o cenário pós-eleitoral, dizem analistas.

"Os resultados eleitorais significam que nenhuma decisão importante será tomada nos próximos meses, o que pode ser negativo", disse o analista do Royal Bank of Scotland, Mark Pieter de Boer. "No pior cenário, isso pode resultar numa coalizão com lutas internas que adiaria reformas, o que provavelmente resultaria em reeleições no prazo de um ou dois anos."

A promessa do Partido da Liberdade de proibir a entrada de muçulmanos no país, negar apoio social a outros imigrantes e introduzir um imposto pelo uso de véus islâmico ofuscou os chamados dos principais partidos para a realização de reformas orçamentárias e redução das dívidas, uma tentativa de poupar a Holanda do pior, na medida em que a crise da dívida na Europa continua.

Segundo resultados quase finais, o Partido Liberal de centro-direita de Mark Rutte e o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, conquistaram respectivamente 31 e 30 cadeiras e são vistos como os mais prováveis para formar o centro de um governo comum. Na manhã desta quinta-feira, tudo dava a entender que Rutte seria o líder do partido que tenta formar um governo, enquanto os liberais se tornam o maior grupo pela primeira vez na história da Holanda. Na legislatura anterior, o Partido Liberal tinha 22 assentos enquanto o Trabalhista tinha 33.

O primeiro-ministro interino Jan Peter Balkenende renunciou na noite de quarta-feira depois que seu partido, o Democrata Cristão, perdeu 20 de suas 41 cadeiras. O governo anterior, uma coalizão de três partidos de centro e de esquerda, caiu em fevereiro após um desentendimento interno sobre o envio de forças holandesas para o Afeganistão.

Após o resultado da eleição da quarta-feira, a coalizão mais provável deve combinar um difícil agrupamento de quatro partidos com os liberais de Rutte se unindo ao trio de centro-esquerda formado por trabalhistas, Liberais Democratas e Verdes.

A maioria dos partidos principais, exceto os Liberais, descartaram a entrada de Wilders e de seu Partido da Liberdade no novo governo.

Mas o apoio popular a Wilders forneceu peso político a suas exigências de estar entre os candidatos de um futuro governo de coalizão. "O establishment político não pode mais nos ignorar", disse Wilders na noite de quarta-feira.

"Os eleitores holandeses claramente fizeram uma escolha para a direita na qual o projeto de Rutte de controlar a imigração também atraiu os eleitores, deixando Rutte sem escolha a não ser conversar com Wilders sobre uma possível coalizão", disse Gunther von Billerbeck, analista de Europa da Oxford Analytica, lembrando que os liberais estão mais próximos do Partido da Liberdade do que dos trabalhistas.

Indicando sua disposição em fazer parte das negociações para a formação de uma coalizão, Wilders disse que está disposto a deixar de lado sua posição anterior de manter a idade para a aposentadoria em 65 anos, questão que ele defendeu durante a campanha. Com o objetivo de lidar com o envelhecimento da população e com o peso que isso vai representar nas finanças do país, a maioria dos demais partidos é favorável à elevação da idade para os 67 anos.

O Partido Liberal pode formar um governo com uma coalizão de centro-direita com os Democratas Cristãos e com o Partido Liberal de Wilders. Juntos, os três partidos têm 76 cadeiras. Os liberais compartilham com o Partido da Liberdade a dura posição sobre imigração, mas as duas legendas estão a quilômetros de distância em questões econômicas, embora ambas peçam um corte nas contribuições holandesas à União Europeia bem como nos limites de gastos relacionados a questões imigratórias como programas de integração.

Analistas políticos observaram que se Wilders não participar do governo, ele terá outros quatro anos para criticar o governo em questões sensíveis relativas à imigração.

Há dúvidas sobre a estabilidade do partido de Wilders porque ele é um novato com um grupo relativamente inexperiente em seu partido, segundo analistas. "Isto também pode evitar que Rutte forme um governo com Wilders", disse Pijpers.

O resultado eleitoral significa que o próximo governo pode ser problemas em executar a agenda de reformas apresentada pelo Partido Liberal. Rutte quer reduzir o déficit orçamentário do governo em € 20 bilhões até 2015, enquanto os trabalhistas quarem um corte de € 11 bilhões no mesmo período. O déficit da Holanda é atualmente de 6,6% do Produto Interno Bruto estimado em € 585 bilhões neste ano.

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