A autópsia da italiana Eluana Englaro, cuja morte dividiu a Itália, não encontrou nenhum sinal de irregularidade, contrariando suspeitas de ativistas antieutanásia, disse uma fonte policial. A disputa política em cima do caso, no entanto, prossegue.

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Englaro, que permaneceu em estado vegetativo durante 17 anos, morreu de repente nesta segunda-feira (9) enquanto o Parlamento debatia um decreto do governo que forçaria os médicos a mantê-la viva por meio de uma sonda para alimentação.

Quando ela morreu em uma clínica na cidade de Udine, no norte da Itália, estava sem ser alimentada nem hidratada por quatro dias a pedido da família e de acordo com uma decisão da principal corte da Itália, contestada pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi e pelo Vaticano.

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Berlusconi disse que Englaro foi assassinada, acusando o presidente de esquerda Giorgio Napolitano de estar entre os responsáveis por se recusar a assinar um decreto emergencial ordenando que os médicos a mantivessem viva.

Alguns ativistas antieutanásia sugeriram que a morte de Englaro havia sido acelerada por sedativos enquanto o Parlamento parecia preparado a aprovar o decreto que forçaria a retomada da alimentação.

"Eluana, respostas precisam ser dadas" foi a manchete da primeira página do jornal Avvenire, dos bispos católicos italianos.

Ativistas católicos contrários a deixá-la morrer pediram uma investigação detalhada de sua morte. A maioria dos especialistas médicos esperava que Englaro, que tinha 38 anos e permanecia em coma desde um acidente de carro em 1992, sobrevivesse cerca de duas semanas sem nutrição.

Resultados preliminares da autópsia indicaram que ela morreu de falência cardiorrespiratória em razão de desidratação, informou uma fonte da polícia em Udine na quarta-feira.

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O promotor regional Benjamino Deidda disse a repórteres que a causa da morte estava de acordo com o que era esperado após a suspensão de comida e água. Deidda afirmou que o corpo seria entregue à família para ser enterrado em "questão de horas".

O caso chamou a atenção da Itália e provocou a ira do Vaticano, que ficou abertamente do lado do governo, trazendo à tona um debate sobre a influência política da Igreja Católica.

"Acho que o que aconteceu em Udine foi uma monstruosidade... morrer por falta de comida e água não é uma morte natural", disse Gaetano Quagliarello, senador pelo partido Povo da Liberdade, de Berlusconi, em uma carta ao diário Corriere della Sera.

A oposição de centro-esquerda atacou Berlusconi e seu governo conservador por tentar obter ganhos políticos com o caso.

"Eu me sinto envergonhado com o espetáculo apresentado por alguns políticos", disse Antonio Di Pietro, líder do partido de centro-esquerda Itália dos Valores.

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"Os assassinos aqui são aqueles que julgam Beppino Englaro (pai de Eluana) pela escolha mais difícil e dolorosa de sua vida", afirmou.