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“Estou convencido de que uma autopurificação natural e necessária da sociedade só fortalecerá nosso país". Foi o que disse o presidente russo Vladimir Putin no último comunicado transmitido pela televisão, na quarta-feira (16). A ameaça foi dirigida aos cidadãos russos que ele chamou de “traidores” e “escória pró-Ocidente”.
"O povo russo sempre será capaz de distinguir verdadeiros patriotas da escória e dos traidores e simplesmente cuspi-los como uma mosca que voou em suas bocas”, continuou. Em seguida, Putin disse que essa parte da população forma a “quinta coluna”, um elemento que trabalha em um território em benefício do adversário. Ainda apontou que os defensores do Ocidente “ganham seu dinheiro aqui, mas moram lá, com seus pensamentos, em sua consciência servil".
Logo depois, criticou a cultura ocidental: "Não julgo de forma alguma aqueles que têm uma vila em Miami ou na Riviera Francesa, que não podem viver sem foie gras, ostras ou as chamadas liberdades de gênero. Mas o problema é que estão mentalmente lá, e não aqui, nem com nosso povo, nem com a Rússia."
Por fim, Vladimir Putin acusou o Ocidente de manipular esses russos para dividir opiniões e gerar confrontos civis, com o objetivo de destruir a Rússia.
O Grande Expurgo
O discurso de Putin lembra O Grande Expurgo, violenta campanha de repressão política na União Soviética que ocorreu entre os anos de 1936 a 1938 feita pelo Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética, Josef Stalin. O movimento trazia essa ideia de "autopurificação" da população. Mais de 750 mil pessoas morreram, incluindo líderes históricos, políticos adversários e profissionais da imprensa. A “limpeza” da população russa foi feita através de julgamentos em massa e execuções nunca publicadas.
Quando o atual presidente russo fala em “autopurificação natural e necessária” e em "escória pró-Ocidente" parece preparar a população para episódios de expurgo e controle de informação no país. Durante a transmissão na televisão, Putin informou que os russos presos em protestos contra a guerra serão julgados sob uma nova lei. Ela permite penas de prisão de até 15 anos “pela disseminação intencional daquilo que a Rússia considera ser informação falsa sobre a Guerra na Ucrânia”.
As autoridades russas têm denunciado relatos de reveses militares russos ou mortes de civis na Ucrânia como “fake news”. Enquanto isso, os meios de comunicação estatais se referem à invasão da Ucrânia pela Rússia como uma “operação militar especial” em vez de uma “guerra” ou “invasão”.