O autor do ataque que matou três curdos na última sexta-feira (23), no centro de Paris, revelou aos investigadores que tentou executar antes um massacre na vizinha Saint-Denis e que a intenção inicial era se suicidar "após matar estrangeiros".
Segundo um comunicado divulgado neste domingo (25) pela promotora da capital da França, Laure Beccuau, o homem, de 69 anos, garantiu que na manhã de sexta foi à Saint-Denis, ao norte de Paris, uma região conhecida por ser habitada por muitos imigrantes, com a intenção de assassinar o máximo possível deles.
De acordo com o relato do autor, embora estivesse portando uma arma, um revólver Colt 45, de calibre 11-43, que havia adquirido cinco anos atrás e mantido escondida na casa dos pais, onde vivia, não encontrou suficiente número de pessoas e abriu mão do plano.
Então, ele retornou ao bairro onde vivia e lembrou que ali havia um centro cultural curdo, que afirmava odiar, por ter tido como prisioneiros combatentes do Estado Islâmico (EI) e não os ter matado.
Ali, acabou realizando o massacre, disparando contra dois homens e uma mulher, os dois primeiros diante do centro cultural e a terceira vítima em um restaurante curdo. Duas pessoas morreram no local e a outra no hospital.
O indivíduo se escondeu, então, em uma barbearia local, onde feriu outras três pessoas e acabou desarmado por uma delas antes de ser preso, de acordo com o relato da promotora.
Durante o interrogatório, que foi interrompido neste sábado pela alegação de problemas psiquiátricos do preso, ele se definiu como "depressivo e suicida".
O homem disse que o ódio aos estrangeiros começou em 2016, quando foi vítima de um roubo à residência. Segundo veículos de imprensa, na ocasião, ele atacou um dos ladrões, de origem estrangeira, e foi condenado por isso.
A promotora relatou que a única coisa que o autor lamenta é "não ter se suicidado", algo que disse pretender fazer "algum dia", mas "não sem antes levar o máximo possível de inimigos", em referência a pessoas que não são europeias.
A investigação não conseguiu determinar até o momento qualquer relação particular do homem com a comunidade curda, nem as análises de seu telefone ou do computador que mantinha na casa dos pais, permitiram estabelecer vínculos com ideologias extremistas.
Até o momento, a apuração descartou caráter terrorista à ação, como defendem os representantes da comunidade curda na França, que acusa a Turquia.
Turquia condena ataque, mas critica protestos curdos na França: "terroristas"
O governo da Turquia condenou neste domingo o ataque em que morreram três pessoas de origem curda, mas classificou de "terroristas" os protestos que surgiram em reação ao atentado.
O porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin, postou uma mensagem no Twitter, em que atribui as manifestações, muitas das quais resultaram em violentos confrontos, ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a guerrilha curda na Turquia, que é considerado terrorista pelo governo do país e pela União Europeia.
"Este é o PKK na França. A mesma organização terrorista que vocês apoiam na Síria. O mesmo PKK que matou milhares de turcos, curdos e agentes de segurança nos últimos 40 anos. Agora, queimam as ruas de Paris. Vocês seguirão calados?", escreveu Kalin.
Em uma segunda mensagem, o porta-voz da presidência turca escreveu apenas a "sem comentários", ao postar um vídeo de uma manifestação em que é possível ouvir, em francês, o lema "Somos todos PKK".
Ömer Çelik, porta-voz do partido islâmico AKP, que governa a Turquia desde 2002, atribuiu o "racista e fascista" ataque de sexta-feira ao "aumento da xenofobia, islamofobia e a rejeição dos imigrantes pela política e meios de comunicação da França".
Durante as manifestações de sábado em Paris, 31 policiais ficaram feridos e 11 pessoas foram detidas. Foram registrados danos ao mobiliário urbano, carros foram virados, lixeiras foram incendiadas, entre outros atos de vandalismo.