O autor francês Michel Houellebecq parou de promover seu romance controverso que descreve uma França liderada por um presidente muçulmano, após o ataque à revista Charlie Hebdo, disse seu agente nesta sexta-feira.
Thomas Audouard, porta-voz da agência literária e artística InterTalent, disse que Houellebecq ficou devastado pela morte de seu amigo Bernard Maris, economista e colunista da Charlie Hebdo que estava entre as doze pessoas mortas por homens armados na quarta-feira, dia em que seu livro "Submission" foi lançado.
Depois de dar várias entrevistas para a mídia francesa, nos dias que antecederam o lançamento da obra, o autor recluso deixou Paris na quinta-feira para um local desconhecido, de acordo com Audouard. Ele não está sob proteção policial, acrescentou.
Citando as "presente tragédias", a emissora de televisão francesa Canal+ disse nesta sexta-feira que não iria transmitir uma entrevista com Houellebecq realizada após o tiroteio de quarta-feira. O anúncio foi feito horas antes do horário agendado para a transmissão.
Embora Houellebecq tenha descrito "Submission" como "ficção científica política", o livro despertou uma polêmica em todo o país com as acusações de que ele está alimentando desconfiança e ódio contra os muçulmanos. A trama se desenrola em 2022, quando François Hollande teria terminado o que Houellebecq descreve como "segundo mandato desastroso" como presidente da França.
Um candidato islâmico, Mohammed Ben Abbes, se qualifica para o segundo turno da eleição presidencial sob uma plataforma de valores religiosos e tradicionais que apelam para um segmento crescente do eleitorado francês desiludido com a modernidade ocidental. Ben Abbes derrota sua adversário, a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, retratada no livro como o arqui-inimiga política do Islã.
No relato de Houellebecq, a sociedade francesa pacificamente aceita o novo regime, onde as mulheres são proibidas de trabalhar e devem usar o véu islâmico. Pelo lado positivo, ele escreve, a prosperidade econômica está de volta depois de décadas de desemprego recorde e os índices de criminalidade são trazidos de volta aos níveis mínimos.
Desde o seu lançamento na quarta-feira, o livro se manteve como mais vendido no site francês da Amazon. Hollande disse no início desta semana que iria ler o livro, mas alertou contra o que ele chamou de "essa tentação de decadência e declínio (...), esse clima de medo".