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Iranianos que se opõem ao regime enfrentam diferentes tentativas de serem calados. A execução pública de manifestantes é a principal arma das autoridades contra os protestos. Outra medida menos evidente é o incentivo à crise econômica, para pressionar a população como um todo. A onda de mobilizações foi estimulada pela morte da jovem Mahsa Amini em 16 de setembro de 2022, durante sua prisão por não usar o hijab (lenço).
“Nas últimas semanas, houve uma queda perceptível no número e tamanho das manifestações violentas em todo o país”, analisa Ali Alfoneh, especialista sobre o Irã do Instituto do Golfo em Washington, ao jornal francês Le Figaro. “Os trabalhadores dos setores industrial e de serviços não aderiram aos protestos e as manifestações estudantis, centrais no início do movimento, também diminuíram significativamente”, conclui.
Dezessete pessoas foram condenadas à morte devido aos protestos no país, segundo uma contagem da agência AFP, com base em informações oficiais. Quase 500 pessoas foram mortas e cerca de 20 mil foram detidas, de acordo com a ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo.
Entre as pessoas condenadas, quatro foram executadas, duas tiveram as sentenças de morte confirmadas, seis aguardam novos julgamentos e outras duas podem recorrer.
A justiça iraniana anunciou, no último sábado (7), o enforcamento de dois homens considerados culpados de terem matado um paramilitar durante as manifestações.
No começo de dezembro de 2022, foi realizada a primeira execução relacionada aos protestos. Mouses Shekari foi condenado por ferir um agente de segurança com uma faca e bloquear uma rua em Teerã, segundo informou a agência estatal de notícias Tasnim.
O regime publicou um vídeo do que disse ser a confissão de Shekari onde ele aparece com um ferimento na bochecha direita. O homem admitiu ter atacado um membro da força Basij (força auxiliar, engajada em atividades como segurança interna) com uma faca e ter bloqueado uma via com sua motocicleta ao lado de um de seus amigos. Grupos de direitos humanos, no entanto, declararam que Shekari foi torturado e forçado a confessar seu crime.
A Anistia Internacional caracteriza as execuções como “julgamentos fraudulentos destinados a intimidar os participantes da revolta popular que abalou o Irã”.
Crise econômica
“Com sanções, má gestão e corrupção, eles chegaram no fim do abismo”, descreve Austin Andrade, professor de História do Grupo Integrado de Educação. Essa má gestão econômica agrava a situação complicada em que o país se afunda desde que o ex-presidente americano Donald Trump abandonou, em 2018, o acordo entre os países assinado três anos antes, e o Irã passou a receber sanções severas dos Estados Unidos.
“A população está muito insatisfeita. É um país isolado, com dificuldades econômicas e um regime autoritário. Diferente de outros momentos de mobilizações no país em outros anos, desta vez existe uma maior resiliência dos manifestantes”, aponta Andrew Traumann, doutor em História e professor do curso de Relações Internacionais do UniCuritiba.
No entanto, apesar de perdurarem, os movimentos perderam força e a economia tem sua participação nisso. Segundo dados oficiais, em apenas um mês e meio, a moeda local caiu 40% e a inflação subiu 50% entre setembro e dezembro, quando os protestos começaram. Mesmo tendo condições para uma tentativa de salvar a economia do país - com a injeção de dólares, por exemplo, como o regime fez em 2019 -, as autoridades não tomaram medidas para impedir a queda do rial.
“As manifestações diminuíram porque as pessoas querem viver”, explica Mohsen, um comerciante entrevistado pelo Figaro. “Antes o pobre podia comer, hoje é a maior miséria. Os iranianos se manifestam menos porque se preocupam em salvar suas famílias”, conclui.