Em seu primeiro encontro em território palestino, em Jericó, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, avançaram nesta segunda-feira (6) rumo à criação de um Estado palestino.
"Decidimos aumentar o alcance das negociações mútuas para aumentar o entendimento entre nós e formular um marco que nos permita avançar em direção ao estabelecimento de um Estado palestino o mais rápido possível", afirmou Olmert após a reunião.
Foi "o primeiro encontro no qual foram abordados os temas básicos para estabelecer um Estado palestino", disse o negociador palestino e assessor de Abbas, Saeb Erekat, em entrevista coletiva na Muqata (sede da Presidência da ANP), na cidade cisjordaniana de Ramala.
O primeiro-ministro e o presidente concordaram que o Mapa do Caminho - o plano de paz apresentado em 2003 pelo Quarteto de Madri (ONU, EUA, União Européia e Rússia) - deve ser a base das negociações, porque, segundo Olmert, "é aceitável para as duas partes".
"Agora necessitamos de ações e prazos concretos. Nosso povo quer ver resultados", disse Erekat.
Nesse sentido, o negociador palestino pediu que a conferência de paz convocada pelo presidente americano, George W. Bush, para setembro se "concentre em prazos e ações concretas".
Apesar de expressar vontade de avançar em direção a um Estado palestino, Olmert reconheceu que não apresentou no encontro nenhuma data concreta.
"Nosso objetivo comum é colocar em prática a visão compartilhada entre nós e Bush sobre o estabelecimento de dois Estados para dois povos que vivam junto um ao outro em paz e segurança", disse Olmert.
Quanto a medidas práticas e a curto prazo, ele prometeu a Abbas facilitar a mobilidade dos palestinos na Cisjordânia e de alguns estudantes em Gaza - que Israel impede de estudar na Cisjordânia -, afirmou Erekat.
O primeiro-ministro também se comprometeu a ajudar na reabertura de passagens de fronteira na Faixa de Gaza, fechadas desde que o grupo fundamentalista Hamas tomou o controle de Gaza.
Abbas "agradeceu a libertação de 250 presos palestinos" no dia 20 de julho "e pediu que haja mais libertações" em um futuro próximo, disse Erekat.
Em meio a fortes medidas de segurança, a reunião de Jericó foi a primeira de que um dirigente israelense participou em território palestino. Crítica
O encontro foi criticado pelo líder do Hamas, Ismail Haniyeh. Em reunião de seu ministério em Gaza, o primeiro-ministro destituído chamou o encontro de "manobra de relações públicas" que em "nada fornece o povo palestino". Segundo ele, a reunião só serviu à política americana de "estender a guerra entre os países islâmicos da região".
A população de Jericó também viu o encontro com apatia e indiferença.
"Com ou sem reuniões, a cidade continua fechada. Para entrar e sair, temos que passar pelos controles militares israelenses", protestou Moussa Abujamal, de 32 anos.
Além dessas barreiras, os habitantes da cidade tiveram hoje que tolerar o grande número de agentes de Israel na região, por ocasião do encontro.
A escolha do Hotel Intercontinental, na periferia, como sede da reunião permitiu que as atividades transcorressem normalmente no centro de Jericó, cidade com 30 mil habitantes.
A reunião fez parte dos encontros quinzenais que ambos os dirigentes se comprometeram a realizar, em março, durante a visita à região da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice. O encontro foi realizado em meio a uma intensa atividade diplomática na região, com mediação dos países árabes.
No dia 25, os ministros de Assuntos Exteriores do Egito, Ahmed Aboul Gheit, e da Jordânia, Abdelelah al-Khatib, apresentaram às autoridades israelenses a iniciativa de paz árabe, revitalizada cinco meses antes, na Cúpula de Riad da Liga Árabe.
O plano, lançado em 2002, propõe o reconhecimento de Israel pelos países árabes, em troca da criação de um Estado palestino, da devolução dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias (1967) - incluindo Jerusalém Oriental e as Colinas do Golã sírias - e do retorno dos refugiados.
A criação de um Estado palestino foi estipulada no plano de partilha aprovado em 1947 pela Assembléia Geral da ONU.
Gheit e Khatib pediram aos dirigentes israelenses que não desperdiçassem a oportunidade histórica representada pela iniciativa, segundo eles.