Baikonur (Casaquistão) A viagem do tenente-coronel da Força Aérea Brasileira Marcos César Pontes à Estação Espacial Internacional (EEI) concretizou o sonho de dar visibilidade ao programa espacial desenvolvido pelo Brasil, permitindo sua entrada no mercado da indústria do setor. "Valeu a pena", disse Pontes, logo após o pouso, no deserto do Casaquistão.
Emoção à parte, a viagem não deixou de abrir uma oportunidade futura para "empresas brasileiras de realizar contratos paralelos de exportação, de modo a gerar mais desenvolvimento tecnológico, saldo na balança comercial e mais empregos", como declarou o astronauta em entrevista recente. A viagem de um brasileiro à estação orbital havia sido planejada desde 1997, após a assinatura de um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, segundo o qual o país, por meio da Agência Espacial Brasileira (AEB), teria o direito à participação científica na EEI, com tripulante incluído, em troca de equipamentos fornecidos à cota da Nasa (agência espacial americana) para a montagem da estação. No entanto, a revisão da participação brasileira (de uma estimativa inicial de US$ 120 milhões em cinco anos para um teto de US$ 10 milhões ao ano desde 2003) e a suspensão do programa de ônibus espaciais da agência americana levaram o Brasil a aceitar um convite feito pela Roscosmos (agência espacial russa) para enviar ao espaço seu astronauta ainda neste ano.
A assinatura de um contrato comercial, em outubro de 2005, entre a AEB e a Roscosmos, viabilizou a viagem. Devido aos altos custos, a missão foi cercada de polêmica no Brasil, tendo sido defendida e criticada por vários cientistas. Para o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, por exemplo, autor de mais de 40 livros sobre astronomia e espaço, entre eles o recém-publicado Anuário de Astronomia 2006, não vale a pena pagar tanto. Segundo Morão, decidir enviar o brasileiro agora "foi uma decisão precipitada", pois antes de se pensar em ir ao espaço, teríamos que começar a desenvolver o nosso próprio foguete. Para o astrônomo, até mesmo batizar a missão como Centenário para homenagear Santos Dumont foi inadequado. "Santos Dumont voou por seus próprios meios", afirmou, em alusão ao avião14 BIS.
Nos oito dias em que ficou a bordo da EEI, Pontes realizou, com sucesso, oito experiências nas áreas de biotecnologia, microeletrônica, mecânica e biologia.
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