O avião ucraniano que caiu após decolar de Teerã na madrugada de quarta-feira pode ter sido derrubado acidentalmente por um míssil iraniano, segundo autoridades dos EUA e um vídeo que parece mostrar o momento em que a aeronave é atingida. Se as suspeitas se confirmarem, essa não seria a primeira vez que uma aeronave transportando civis é alvo de um ataque militar - e também não seria o primeiro caso como esse envolvendo a Ucrânia ou o Irã.
Confira alguns casos de aviões comerciais que foram abatidos em ataques militares pelo mundo:
Voo 17 da Malaysia Airlines (2014)
Em 17 de julho de 2014, o voo da Malaysia Airlines que ia de Amsterdã para Kuala Lumpur foi derrubado por um míssil superfície-ar de fabricação russa. Todas as 298 pessoas, incluindo 80 crianças, que estavam a bordo morreram. A aeronave foi destruída no ar e seus destroços foram espalhados por uma grande área.
O acidente aconteceu no leste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia, durante disputas entre forças ucranianas e separatistas apoiados pela Rússia. No ano passado, uma investigação internacional acusou quatro militares suspeitos de terem derrubado o Boeing 777: três russos e um ucraniano. Eles serão julgados em março pelo assassinato das 298 vítimas. Os acusados não "apertaram o botão" diretamente, mas foram os responsáveis pela derrubada da aeronave, segundo a acusação.
A Rússia nega qualquer envolvimento com o caso e alega que foi excluída da investigação.
Voo 1812 da Siberia Airlines (2001)
Em 4 de outubro de 2001, um voo da Siberian Airlines foi derrubado por militares na Ucrânia. O Tupolev Tu-154, de fabricação soviética, voava de Novosibirsk (Rússia) para Tel Aviv (Israel) e foi alvo de um míssil ucraniano quando sobrevoava o Mar Negro; 64 passageiros e 12 membros da tripulação morreram na queda.
Como o caso ocorreu menos de um mês depois dos atentados de 11 de setembro, a Rússia inicialmente suspeitou de terrorismo.
A Ucrânia não admitiu a culpa imediatamente. Somente após pressão de investigadores russos, o presidente da Ucrânia reconheceu a falha dos militares. No dia do acidente, o exército ucraniano conduzia um grande exercício militar que envolvia disparos de mísseis contra drones.
As investigações concluíram que o acidente foi causado por um míssil do sistema antiaéreo S-200 que perdeu o drone que deveria ter sido o seu alvo mas acabou sendo destruído por outro míssil disparado no mesmo momento. Em vez de se autodestruir, o míssil alvejou o avião da Siberian Airlines, que estava a cerca de 250 quilômetros, causando a tragédia.
Voo 655 da Iran Air (1988)
Os Estados Unidos também derrubaram acidentalmente um avião civil. Em meio à guerra Irã-Iraque, navios americanos e iranianos se envolveram em disputas no Golfo Pérsico. Navios dos EUA e de outros países estavam na região para garantir a segurança do transporte de petróleo. Perto do fim do conflito, no dia 3 de julho de 1988, o cruzador americano USS Vincennes derrubou um Airbus 300 da Iranian Air, matando todas as 290 pessoas que estavam a bordo, incluindo 66 crianças.
Segundo os EUA, a tripulação do USS Vincennes confundiu o avião com um F-14, um caça americano que os EUA haviam vendido ao Irã antes da revolução de 1979, e disparou dois mísseis contra a aeronave sobre o Estreito de Ormuz. O voo 655 da Iran Air tinha decolado de um aeroporto iraniano usado por aeronaves civis e militares, com destino a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
No Irã, as autoridades consideraram que o ataque foi deliberado e um ato criminoso. O país persa processou os EUA no Tribunal Internacional de Justiça, e o governo americano acabou fazendo um acordo de indenização de US$ 61,8 milhões para as famílias das vítimas. O então presidente Ronald Reagan disse que o evento foi uma "terrível tragédia humana". Acredita-se que o caso tenha contribuído para a desconfiança dos iranianos em relação aos EUA até os dias de hoje.
Voo 007 da Korean Air Lines (1983)
O voo 007 da Korean Air Lines partiu de Nova York com destino a Seul em 1º de setembro de 1983. Após escala em Anchorage, Alasca, o Boeing 747 se desviou da rota e entrou em espaço aéreo soviético. O avião foi derrubado por mísseis aéreos disparados por um caça soviético, matando todas as 269 pessoas a bordo. Autoridades soviéticas alegaram que o avião estava em uma missão para coletar informações de inteligência, mas as evidências não corroboram essa versão.
O congressista americano Larry McDonald, um crítico ferrenho do comunismo e adepto de várias teorias de conspiração, estava no voo e morreu no incidente.
O caso ocorreu durante a Guerra Fria e contribuiu para a deterioração das relações entre Estados Unidos e União Soviética. O incidente também levou à expansão do Sistema de Posicionamento Global (GPS) para civis.
Voo 870 da Itavia Airlines (1980)
As causas da tragédia do voo 870 da Itavia Airlines ainda são um mistério. Em 27 de junho de 1980, o avião que decolou de Bolonha com destinho a Palermo caiu no mar Tirreno, perto da Sicília, matando todos os 81 passageiros e membros da tripulação. A teoria mais aceita para as causas do acidente é que um míssil aéreo atingiu o avião. Um tribunal italiano afirmou que há "evidências abundantes" que apontam para essa versão. Porém, não é possível afirmar com certeza qual aeronave teria feito o disparo ou de qual país ela seria. Outra hipótese que foi levantada é a de uma bomba plantada por terroristas.
Um juiz italiano apresentou a teoria de um complô da Otan para derrubar o avião que transportava o ditador da Líbia, Muamar Gaddafi, mas que acabou atingindo o voo da Itavia. Ele apresentou evidências de radar que indicavam operações militares de EUA, França, Líbia e Reino Unido, mas essas afirmações nunca foram comprovadas.
Voo 902 da Koren Air Lines (1978)
Um avião da Korean Air Lines que transportava 110 pessoas foi atingido por mísseis de dois caças quando saiu da rota e entrou em espaço aéreo soviético; o Boeing 707 havia decolado de Paris com destino a Seul, Coreia do Sul, em 20 de abril de 1978. O piloto conseguiu manter a aeronave no ar por cerca de uma hora e acabou pousando em um lago congelado perto do Murmansk. Dois passageiros morreram.
Os passageiros foram levados a um consulado americano e deportados para a Coreia do Sul. A tripulação foi detida por autoridades soviéticas e só foi liberada após um pedido de desculpas pelo incidente.
Voo 114 da Libyan Arab Airlines (1973)
Em 21 de fevereiro de 1973, um Boeing 727 da Libyan Arab Airlines que voava de Trípoli para o Cairo se perdeu e entrou em espaço aéreo controlado por Israel sobre o Sinai. Após enviarem sinais e disparos de alerta, dois jatos israelenses derrubaram o avião, matando 108 pessoas. Cinco pessoas sobreviveram.
O governo de Israel indenizou as famílias das vítimas. A Líbia considerou o caso um "ato criminoso".
Conteúdo editado por: Helen Mendes