Os países emergentes com superávit deverão assumir reformas destinadas a flexibilizar suas moedas. Já os países ricos que enfrentam problemas fiscais deverão se comprometer a reduzir seus déficits pela metade até 2013, apesar do risco de a medida representar uma desaceleração econômica, diz o rascunho do comunicado final da reunião de cúpula do G20 (grupo das principais economias avançadas e em desenvolvimento), que ocorreu durante o fim de semana em Toronto, no Canadá.
"As economias avançadas comprometeram-se com planos fiscais que vão pelo menos reduzir pela metade os déficits até 2013 e estabilizar ou reduzir a relação entre dívida e PIB (Produto Interno Bruto) até 2016", diz o documento.
A chanceler alemã, Angela Merkel, demonstrou satisfação com o compromisso. "Significa que será preciso equilibrar as contas para enfrentar a dívida", resumiu. No entanto, o debate sobre a reforma da regulação financeira e a taxação sobre transações financeiras foi adiado para a próxima reunião de cúpula em Seúl, em novembro.
A crise de déficit e a velocidade da retirada das medidas de estímulo, assim como o tamanho do corte de gastos em alguns países, especialmente da Europa, esteve no centro dos debates em Toronto. A reforma financeira vem sendo discutida desde encontros anteriores do G20 com o objetivo de tornar o sistema financeiro mais transparente e evitar que se sucedam novas crises econômicas globais como a de 2008.
"Comprometemo-nos a realizar ações coordenadas para sustentar um crescimento mais forte e equilibrado", diz o projeto de declaração, que também defende a criação de empregos. As ações, contudo, "serão diferentes e ajustadas às circunstâncias nacionais", reconhecem líderes das nações mais industrializadas e emergentes. Os europeus, atingidos por crises de déficit orçamentário e dívida pública, defendem as medidas de austeridade adotadas por vários países para colocar suas contas em dia. A declaração vem a público uma semana depois de a China (leia matéria abaixo) anunciar a intenção de flexibilizar seu regime cambial, tirando o yuan da cotação invariável que mantinha ante o dólar há quase dois anos.
Brasil e México
No sábado, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, havia dito que os países emergentes não devem "carregar nas costas" a retomada do crescimento mundial e que, ao ter pressa em retirar estímulos e implementar políticas de ajuste fiscal, alguns países, como os europeus, colocam em risco a consolidação da recuperação da economia global.
Mantega liderou a delegação brasileira na cúpula, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou sua participação para acompanhar os esforços de ajuda às vítimas das chuvas no nordeste do Brasil.
Assim como o Brasil, os Estados Unidos e outros países temem que a retirada prematura das medidas de estímulo possa colocar em risco a recuperação global. Segundo o ministro, o Brasil não teria problema em cumprir metas de redução do déficit, mas países como o Japão, com déficits altos, enfrentariam dificuldades.
O mais importante para gerar crescimento mundial é ter as contas em ordem, declarou ontem o ministro da Fazenda mexicano, Ernesto Cordero, ao ser perguntado sobre os compromissos dos países ricos na cúpula do G20. "Neste momento, o que mais ajuda a gerar crescimento, investimento em todo o mundo, é que haja certeza de que as economias têm ordem na casa, viabilidade", declarou Cordero, em intervalo dos trabalhos da cúpula do G20.
Se os países europeus "tivessem um problema de insolvência, não pudessem pagar suas dívidas, isto sim afetaria não só o México, mas todos os países emergentes de novo", acrescentou.