A otimista Suécia e a pessimista Itália combinam em um ponto: nos últimos anos, vêm produzindo mais bebês. O mesmo ocorre em vários outros países europeus, o que comprova um estudo publicado em agosto pela revista Nature, que liga um altíssimo índice de desenvolvimento a famílias mais numerosas.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia provaram que, acima do índice de desenvolvimento humano (IDH) 0,86 (o Brasil tem 0,81), existe uma inversão no declínio de natalidade que até agora era associado aos países ricos.
A teoria é respaldada pela multiplicação de "barrigões" em diversos países europeus, que, de 2000 para 2007, elevaram suas taxas de natalidade: Noruega (IDH 0,97 e alta de 1,85 filho por mulher para 1,90), Dinamarca (IDH 0,95 e alta de 1,78 para 1,84), Espanha (IDH 0,95 e alta de 1,23 para 1,40), para citar alguns exemplos. Estados Unidos, Israel e Nova Zelândia também comprovaram o padrão.
Apesar da crise econômica iniciada em 2007, os berçários de países como Irlanda, França e Islândia se encheram. Na França, a alta de 1,2% na natalidade em 2008 foi explicada pelo retorno a valores familiares, de acordo com o instituto EurActiv.
O norte da Europa marcha mais rapidamente para os desejados dois bebês por família, enquanto o sul tem menos de 1,5 filho por mulher. Mesmo assim, países como a Itália passaram de 1,26 para 1,30 filho por mulher entre 2000 e 2007. São bebês "escondidos" em vilas como Monteveglio, na província de Bolonha, onde Mara Mengoli vive com o marido e quatro filhos. Lá, outras dez famílias têm quatro ou cinco crianças. "Não sei o que acontece aqui. Se você for a Bazzano (a cinco minutos de carro), isso não existe", conta.
A alemã Katrin Marquardt também acredita que em seu país o "baby boom" esteja nas cidades pequenas. Os filhos Justus e Jonas tinham 4 e 2 anos quando ela engravidou de Lilith, em plena recessão. "Nem pensamos na crise, meu marido tem um bom emprego", diz. A Alemanha é a "menos fértil" no norte europeu, com 1,3 filho por mulher.
Grávida de sete meses do quarto filho, a sueca Raqel Hugosson lembra que, já quando esperava a primeira filha, há oito anos, as parteiras falavam em um baby boom em Örebro, a 200 quilômetros de Estocolmo. O país ainda não alcançou a taxa de reposição da população (2,1 filhos por mulher), mas, em 2007, já beirava 1,9, de acordo com o EuroStat, agência de estatísticas da União Europeia.
Na Suécia, famílias como a de Raqel forçam a estatística para cima. Na igreja que ela frequenta, não é incomum ter quatro ou cinco filhos. Se a motivação dela vem do valor cristão de vida em família, para outros a razão é puramente financeira. "Num país como a Suécia, onde temos o sistema social que temos, pessoas que não trabalham muitas vezes têm crianças e ganham para isso", explica.
A alta de 3,5% na taxa de natalidade islandesa de janeiro a agosto deste ano teria sido estimulada por pessoas que buscam um ganho extra, quem diria, aumentando a família, de acordo com o EurActiv.
Mas mesmo quem trabalha é muito bem assistido quando engravida. Raqel, que está empregada, receberá 80% do salário nos primeiros 18 meses de vida do filho que nasce em janeiro. Até agora, o governo sueco pagou esse valor para ela cuidar de Harry, de um ano e seis meses. São 2 mil euros, parte desse valor correspondente a um bônus por não usar a creche de sua região.
Tudo indica que a pesquisa da Pensilvânia esteja certa, já que mesmo países não tão generosos com as mães passam por um novo "baby boom". Na Bélgica, a taxa de natalidade passou de 1,65 filho por mulher em 2007 para 1,71 em 2008.
Número abastecido por pessoas como a fisioterapeuta belga Cathérine Phillippe. Ela já tinha Hugo, com 3 anos, quando soube que estava grávida de gêmeos. Decidiu então nem procurar o ensino infantil, que é muito caro, e optou pela babá Elisângela, brasileira. "Só recebe ajuda do governo quem tem trigêmeos", conta Cathérine.
Bebês estatais
Quanto mais rico o país, mais agressivas as políticas governamentais de incentivo à natalidade. A Comissão Europeia estimula os 27 países do bloco até mesmo a adotar medidas que diminuam as diferenças entre homem e mulher no mercado de trabalho e facilitem conciliar a maternidade à criação de filhos, com investimentos no bem-estar do cidadão.
Conforme um responsável por demografia na Comissão, "se a taxa de nascimentos subir um pouco, isso reduzirá o desafio do envelhecimento da população. Ainda que não o interrompa, tornará o choque da transição mais fácil", diz. A transição a que ele se refere é a entrada dos legítimos "baby boomers" aquela multidão nascida no pós-guerra, hoje com mais de 60 anos na aposentadoria, quando haverá menos pessoas economicamente ativas para pagar as aposentadorias dos mais velhos.