Os cientistas sabiam há tempos que a promiscuidade domina o mundo das bactérias, mas ainda assim levaram um susto ao descobrir o quanto ela é disseminada. Com a ajuda de um tipo especial de vírus, os micróbios parecem ser capazes de transferir material genético - em linhas gerais, algo muito parecido com sexo, em termos humanos - para espécies que têm apenas parentesco distante com os "donos" desse DNA.
A conclusão está num artigo na última edição da revista especializada americana "Science", e preocupa porque a promiscuidade unicelular poderia abrir caminho para a transferência de genes nem um pouco amigáveis aos humanos de bactéria para bactéria. É de se imaginar que trechos de DNA capazes de conferir resistência a antibióticos ou maior agressividade seriam passados de "mão em mão", pelas espécies bacterianas.
John Chen e Richard Novick, do Centro Médico da Universidade de Nova York, estudaram estudaram a função de leva-e-traz desempenhada pelos bacteriófagos, vírus que infectam bactérias. Já se conhecia a capacidade deles de levar certas frações de material genético de um indivíduo bacteriano para outro - dentro da mesma espécie. O vírus retira pedaços de DNA dos cromossomos das bactérias, faz cópias deles e os leva para outro micróbio.
A dupla, porém, verificou que a Staphylococcus aureus, bactéria tristemente célebre por suas variedades resistentes a antibióticos e causadoras de infecção hospitalar, também é capaz de passar seu DNA para espécies muito distantes, como a Listeria monocytogenes. Os genes trocados não são nada inocentes, pois têm a ver com a produção de toxinas pelos microrganismos. Aliás, esse troca-troca parece ocorrer até no leite de vaca, o que poderia apresentar risco para os rebanhos bovinos.
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