Bagdá - O chanceler do Iraque, Hoshyar Zebari, declarou ontem que uma retirada das tropas americanas de seu país o levaria a uma guerra civil total e ao colapso. "Isso (a retirada) poderá desencadear uma guerra civil com partilha do país e guerra regional. Poderemos ver o colapso do país", afirmou Zebari.
A declaração do chanceler iraquiano é a reação a uma apreensão que o governo de George W. Bush vive intensamente nesta semana: o Senado dos Estados Unidos começa a debater o orçamento do Pentágono para 2008, o que propicia à oposição democrata nova oportunidade de vincular ao texto emendas criando um cronograma para o retorno das tropas aos EUA.
Os democratas, que têm maioria no Congresso, já tentaram essa estratégia. As duas Casas do Parlamento chegaram a aprovar lei estabelecendo um cronograma, mas o presidente Bush a vetou. A oposição não tem cadeiras suficientes para derrubar o veto do presidente.
O que torna a situação pior para Bush agora é que parlamentares republicanos que sempre estiveram ao seu lado estão deixando de apoiar sua política para o Iraque. Por trás desse movimento está o fato de que boa parte dos republicanos no Senado deve concorrer à reeleição no ano que vem, e desligar-se da imagem pouco popular de Bush pode lhes favorecer.
A Casa Branca negou ontem que esteja considerando o início da retirada de tropas do Iraque e garantiu que Bush não tem planos para uma saída iminente dos soldados. "Não há nenhum debate neste momento sobre uma retirada imediata de tropas do Iraque", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, em sua entrevista coletiva diária.
No próximo domingo, o governo deverá apresentar ao Congresso dos EUA um relatório preliminar sobre o desenvolvimento da guerra depois do aumento de tropas ordenado por Bush em janeiro. O porta-voz da Casa Branca afirmou que o informe será "uma primeira imagem", já que o aumento de tropas levou um tempo até entrar em fase de plena atividade, e descartou que o documento vá estabelecer datas para retirada.
Apenas entre abril e junho, mais de 330 soldados americanos morreram no Iraque, de acordo com a agência de notícias Reuters. No total, 3.606 soldados e dezenas de milhares de iraquianos já morreram desde o início do conflito, em 2003.
A tensão chega depois de um final de semana particularmente sangrento no Iraque, com um saldo de mais de 200 mortos.
Ontem o chanceler Zebari disse também que a Turquia estacionou cerca de 140 mil soldados na fronteira com o norte do Iraque. Os turcos, que não confirmaram a manobra, querem impedir a ação de curdos do PKK, grupo que promove ações rebeldes na Turquia e que se aloja em território iraquiano.