Entre as muitas cápsulas de gás lacrimogêneo recolhidas pelos ativistas pró-reforma do Bahrein, chamam a atenção as prateadas, cujos rótulos impressos em azul ostentam a bandeira de um país bem distante - o Brasil. Os protestos incessantes da maioria xiita contra a monarquia sunita comandada pelo rei Hamad Bin Issa al-Khalifa se concentravam na chamada Praça da Pérola, na capital, Manama, e se espalharam por vilarejos próximos, sendo reprimidos pela polícia com verdadeiras chuvas de gás branco e espesso. Em tese, o armamento é não letal. Mas já fez vítimas. E vem assustando os manifestantes que exigem o fim da discriminação contra os xiitas e pedem uma monarquia constitucional.
"Algumas pessoas acham que o gás lacrimogêneo do Brasil tem mais substâncias químicas. Há algum tipo de ingrediente que, em alguns casos, leva as pessoas a espumarem pela boca e outros sintomas. Não estamos seguros sobre sua composição, mas essas reações têm sido muito assustadoras. É muito pior que o gás americano", contou ao Globo a ativista de direitos humanos Zainab al-Khawaja.
Aos 28 anos, casada e mãe de uma filha de 2 anos, Zainab é uma das mais ativas vozes da oposição bareinita. Seu nome no Twitter - @AngryArabiyah (árabe furiosa) - evidencia seu descontentamento com o regime al-Khalifa e, principalmente, com as frequentes violações de direitos humanos. Ela é filha do mais proeminente ativista político do país, Abdulhadi al-Khawaja, ex-diretor da ONG Centro para os Direitos Humanos de Bahrein. Preso em abril do ano passado, ele foi surrado tão violentamente que perdeu a consciência. Condenado por uma corte marcial por "crimes contra o Estado", al-Khawaja foi sentenciado à prisão perpétua em junho passado, junto com outros sete dissidentes.
Zainab também já vivenciou os cárceres de Manama. Foi detida várias vezes por participar das manifestações e pelas twittadas dramáticas. Agora, se preocupa com o gás feito no Brasil - cuja aparição é cada vez mais frequente.
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