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Baixas temperaturas nos EUA não significam que aquecimento global não existe

Duas mulheres fazem uma selfie em frente a uma fonte congelada no parque Bryant, em Manhattan, Nova York, em 27 de dezembro. | SPENCER PLATTAFP
Duas mulheres fazem uma selfie em frente a uma fonte congelada no parque Bryant, em Manhattan, Nova York, em 27 de dezembro. (Foto: SPENCER PLATTAFP)

O ano de 2018 vai começar congelante para quem mora na Costa Leste dos Estados Unidos. Alguns climatologistas estão prevendo que a virada do ano será a mais fria desde 1948, com mínima média de -17º C em algumas partes do país. Algumas localidades, como o Distrito de Columbia, declararam situação de emergência por causa do frio extremo. 

Para o presidente americano Donald Trump, a notícia serviu de embasamento científico para um tuíte sobre o aquecimento global. “No Leste, podem ser registradas as temperaturas mais frias já vistas. Talvez pudéssemos usar um pouco daquele bom e velho aquecimento global que nosso país, não outros, está pagando trilhões de dólares para combater. Se agasalhem!”, ele escreveu em seu perfil oficial na noite desta sexta-feira (28). 

O Washington Post lembrou que Trump ainda não havia comentado nada sobre aquecimento global em sua conta na rede social desde que assumiu o cargo de presidente, segundo o Trump Twitter Archive. “Mas 2017 não poderia passar em branco”, conta o jornal. 

“Mesmo estando de férias em Palm Beach, na Flórida, onde as temperaturas médias são de 21ºC, o tuíte de Trump, que aparentemente zomba de quem acredita em ciência climática, sugere que a costa leste ficará tão fria na noite de ano novo que o aquecimento global poderia ser uma coisa boa em vez de uma calamidade ambiental”, segue a reportagem. 

Mas esta não foi a única vez que o presidente utilizou do mesmo argumento para desacreditar o fenômeno. Há dois anos, no inverno de 2015, ele tuitou pelo menos nove vezes que as baixas temperaturas eram evidência de que o aquecimento global não existe. 

Vórtice polar

É verdade que meteorologistas estão prevendo temperaturas abaixo do normal em muitas partes dos Estados Unidos, mas um pouco menores do que no inverno de 2015. O The Capital Wheater Gang, blog do The Washington Post que cobre assuntos climáticos, explicou que esta previsão de frio congelante que vem do Norte é causada pelo vórtice polar, uma zona de correntes de ar frio de diferentes velocidades que circundam o Ártico e espalham o frio do polo para o norte do continente americano.

O meteorologista do Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), Reinaldo Kneib, ajuda a explicar o fenômeno. “É um sistema de baixa pressão que se forma nos polos e gira no sentido horário, formando nebulosidade. E conforme esse sistema se desloca, do oeste para o leste e em direção à linha do Equador, as tempestades de neve ficam mais intensas”. 

O vórtice polar também ocorre no Hemisfério Sul, mas tem impacto muito menor. Kneib conta que as grandes tempestades de neve e o frio são mais intensos no norte do globo devido a maior área de superfície terrestre. “É uma região muito mais continental e isso acaba propiciando a formação de tempestades mais severas”. 

Sobre o aquecimento global, o especialista paranaense salienta que este ainda é um campo que está sendo pesquisado e que ainda não foi provado efetivamente. “Pesquisas estão mostrando que as médias globais de temperatura estão subindo mais rápido do que deveriam. Eles apontam a ação do homem para a mudança climática e biológica que vem acontecendo no planeta, porém é difícil afirmar isso com certeza. Estudos em nível global são complicados. Países mais desenvolvidos tendem a investir mais em pesquisas nesse campo, entretanto há lacunas de dados sobre o hemisfério sul”, alega.

“Mas uma onda de frio não pode provar que a mudança climática é falsa”, lembra o Washington Post. “O aquecimento global provocado pelo homem, como o nome sugere, se refere a um regular aumento na temperatura do sistema climático da Terra, devido ao acúmulo de gases estufa na atmosfera. Na verdade, neste momento em várias partes do mundo estão mais quentes do que o normal, mesmo que uma porção dos Estados Unidos esteja fria. De janeiro a novembro, Os Estados Unidos continental experimentaram o terceiro período mais quente registrado, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica ”.

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