Um plano do Banco Mundial contra a corrupção tem como prioridade trabalhar com os governos de países em desenvolvimento antes de tomar medidas drásticas, como restrição ou suspensão de empréstimos.
Nos casos em que os governos não estejam dispostos a combater a corrupção por conta própria, o banco propõe a criação de um sistema de alertas que incluiria a retirada dos empréstimos, segundo relatório obtido pela Reuters.
A proposta sugere a nomeação de um assessor para ajudar os governos de países em que habitualmente não há transparência nas contas públicas.
O texto parece conciliar opiniões opostas dentro do banco sobre a forma mais eficaz de lidar com a corrupção: suspender imediatamente os empréstimos até que o caso seja resolvido ou então trabalhar com os países para tratar do problema.
O projeto diz que a estratégia para minimizar os riscos da corrupção nos projetos do banco "provavelmente envolverá barganhas e custos adicionais".
"Será necessário um forte comprometimento dos países parceiros", acrescenta.
O presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, considera a corrupção uma das maiores ameaças ao desenvolvimento mundial. Ele já suspendeu projetos no Quênia, na Índia, no Chade e recentemente no Camboja devido a suspeitas. Além disso, fortaleceu a unidade anticorrupção do banco multilateral.
Mas vários países membros acharam que Wolfowitz estava agindo de forma muito independente e sem uma estratégia clara. Por isso, pediram ao banco que desenvolvesse um plano contra as irregularidades para ser discutido na próxima reunião do Comitê de Desenvolvimento, em setembro, em Cingapura.
A proposta, apresentada aos países da diretoria do banco, prevê a redução de empréstimos a nações em desenvolvimento onde haja corrupção, ao menos enquanto medidas mais rígidas são implantadas.
O documento ressalta a importância de coordenar as práticas anti-corrupção do banco com os doadores e com o mercado financeiro, para evitar "a perda simultânea de oportunidades de negócios e de fortalecimento da transparência administrativa."
Dennis de Tray, vice-presidente do Centro para o Desenvolvimento Global, de Washington, e ex-diretor do Banco Mundial da Ásia Central, disse que combater a corrupção exige paciência.
- Quem achar que esses problemas serão resolvidos rapidamente simplesmente não entende esses países onde a corrupção é um problema - disse De Tray.
Segundo ele, o Banco Mundial precisa criar parâmetros para avaliar o combate à corrupção nos países.
- Precisamos de medidas concretas de progresso, e isso não significa corrupção zero, que é um padrão nada prático para aplicar a uma decisão sobre participar ou não - afirmou.
Segundo ele, a corrupção não é um problema de pessoas, mas de sistemas de governo.
- Se a participação do banco for no sentido de entender a natureza de longo prazo do desafio e a necessidade de alvos intermediários, particularmente a necessidade de apoiar boas equipes (de governo) que estejam fazendo o máximo em ambientes difíceis, será uma boa estratégia - declarou De Tray.
- Mas se insistir em um resultado que seja inatingível, o forte comprometimento por parte dos governos irá fracassar.
Ian Gary, assessor de políticas de desenvolvimento da ONG Oxfam, disse não entender a necessidade de fazer concessões nessa luta.
- Não vejo que haja uma barganha entre o impacto para o desenvolvimento e os esforços anti-corrupção, e que reduzir signifique projetos de maior qualidade e maiores resultados de desenvolvimento afinal de contas - afirmou.
Gary disse que atender às preocupações, especialmente nas fases iniciais de planejamento dos projetos, seria melhor do que investigações "policiais" depois que a corrupção acontece.
- Não há espaço para equilibrar a necessidade de manter as operações do banco com as preocupações com a corrupção, especialmente em setores de alto risco, como infra-estrutura e indústria extrativista.
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