O massacre em Charleston, no estado da Carolina do Sul, trouxe à tona novamente o debate sobre um símbolo que divide os Estados Unidos desde sua Guerra Civil: a bandeira confederada, que significa história e identidade para uns e emblema racista para outros. A controversa insígnia dos estados separatistas tremula no Capitólio da Carolina do Sul desde 1962.
Dias depois do assassinato de nove pessoas em uma histórica igreja da comunidade negra, na semana passada, sua presença no Parlamento estadual irrita, indigna e ofende várias pessoas. “Chegou o momento de remover esse símbolo de ódio e da divisão do nosso Capitólio”, disse o reverendo Nelson Rivers, pastor da Igreja Batista Missionária em North Charleston.
A governadora da Carolina do Sul também apoia a retirada. Nikki Haley, eleita em 2010, é membro do movimento ultraconservador republicano Tea Party. Segundo ela, o autor confesso do massacre, Dylann Roof, tinha uma visão doentia e deturpada do símbolo. O prefeito de Charleston, o democrata Joseph P. Riley, fez o mesmo pedido. “Chegou a hora de a bandeira da batalha da Confederação ser retirada da frente do Parlamento e entrar para a história.” No sábado, centenas de cidadãos marcharam na capital do estado, Columbia, em protesto contra a presença da insígnia. A decisão sobre a retirada ou não, no entanto, só ocorrerá em debate entre os legisladores depois de passado um tempo de luto pela tragédia.
Histórico
Há 15 anos, um protesto de 46 mil pessoas em Columbia conseguiu que a polêmica bandeira deixasse de estar no topo da cúpula do Capitólio e fosse transferida para os jardins do edifício, perto de um monumento à luta dos estados separatistas do sul na Guerra Civil dos EUA (1861-1865).
Roof foi detido em um carro que tinha uma placa com a insígnia e a imprensa já divulgou fotos nas quais posava com ela.
A bandeira confederada foi a única do Capitólio da Carolina do Sul que não foi colocada a meio mastro após o massacre, em claro contraste com os emblemas federal e estadual da cúpula do Parlamento. Estas imagens “doem” em centenas de pessoas que saíram às ruas para pedir que o estado siga o exemplo de vizinhos do sul.
Um deles é a Flórida, sob o mandato do governador Jeb Bush, que agora, como pré-candidato à Casa Branca em 2016 e, da mesma forma que todas seus concorrentes republicanos, se pronunciou com cautela para não irritar o eleitorado conservador branco do sul. “Nós agimos na Flórida, transferindo a bandeira para o museu onde pertence”, disse.
O debate sobre esta controvertida bandeira é um assunto tão incômodo para os pré-candidatos republicanos que um deles, o ex-governador de Arkansas, Mike Huckabee, se apressou a situar este tema fora do debate presidencial e defender que só o estado deve abordar a questão. Uma postura apoiada por seus concorrentes Marco Rubio e Ted Cruz.
O único líder republicano que se posicionou de maneira contundente contra a bandeira foi o candidato à presidência em 2012, Mitt Romney. “Retirem a bandeira confederada do Capitólio da Carolina do Sul. Para muitos é um símbolo de ódio racial. Tirem ela dali em homenagem às vítimas de Charleston”, escreveu ontem em sua conta no Twitter.