Barack Obama completa na quarta-feira cem dias no cargo de presidente dos EUA, depois de um início de mandato fervilhante, em que ele sinalizou mudanças em áreas tão díspares quanto a economia, a aquecimento global e as relações com Irã e Cuba.
O marco dos cem dias é tradicionalmente usado nos EUA para avaliar as políticas do recém-chegado presidente, mas analistas alertam que ainda é cedo para dizer se a longa lista de iniciativas de Obama terá sucesso.
A própria Casa Branca minimizou a data, dizendo tratar-se de um termômetro artificialmente criado pela mídia. Mesmo assim, o governo preparou alguns eventos -- uma conversa do presidente com cidadãos de Arnold, Missouri, e uma entrevista coletiva televisionada às 20h (21h em Brasília).
O popular presidente, com taxas de aprovação superiores a 60 por cento, deve usar esses eventos para promover sua agenda de reforma da saúde pública, de apoio aos setores bancário e automobilístico, de combate ao aquecimento global e de uma busca por maior engajamento internacional.
A data também acaba sendo marcada pela ameaça da epidemia de gripe suína e pela polêmica em torno da sua decisão de divulgar documentos secretos do governo Bush que estabeleciam diretrizes para interrogatórios violentos contra suspeitos de terrorismo.
A tradição de avaliar os cem primeiros dias de governo nos EUA remonta ao governo de Franklin Roosevelt, que se gabava da sua capacidade de aprovar 15 projetos importantes depois de sua posse, em 1933, em meio à Grande Depressão. Desde então, nenhum presidente demonstrou tamanha atividade.
"Não há mágica nos primeiros cem dias", disse Ross Baker, cientista político da Universidade Rutgers. "Acho que as pessoas estão sempre procurando uma marca ou algum tipo de baliza."
Como exemplo da precariedade dos cem dias como indicativo, muitos analistas citam George W. Bush, cujo governo acabou sendo marcado por fatos como os atentados de 11 de setembro de 2001 (quase nove meses depois da posse) e a invasão do Iraque (em 2003).
Mas Baker e outros especialistas dizem que Obama já vem revelando seu estilo de governar - com um comportamento calmo e uma eficácia de comando, mas também uma tendência à ambição política exagerada.
Desde 20 de janeiro, Obama sancionou um pacote de estímulo econômico de 787 bilhões de dólares, lançou uma reforma da saúde pública, fez aberturas para os inimigos Irã e Cuba e apresentou uma nova estratégia para as guerras do Iraque e Afeganistão.
No campo doméstico, foi criticado por alguns que consideram que o pacote de estímulo e o orçamento proposto por ele para 2010, no valor de 3,55 trilhões de dólares, irão ampliar demais a dívida pública, comprometendo o futuro crescimento do país.
Alguns críticos também reprovaram a forma como Obama lidou com a crise bancária, alegando que ele deveria ter sido mais rápido e agressivo na tentativa de controlar as dívidas "tóxicas" que infestam o sistema financeiro.