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Narcotráfico

Bate-boca entre Obrador e EUA reabre discussão sobre real tamanho dos cartéis de drogas no México

Presidente do México questiona dados da DEA sobre tamanho e alcance dos cartéis mexicanos e nega responsabilidade pela crise do fentanil nos Estados Unidos (Foto: EFE/Isaac Esquivel)

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Uma troca de declarações no final de julho entre uma representante do governo dos Estados Unidos e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, reacendeu o debate sobre o real tamanho e alcance dos cartéis de drogas baseados no país latino-americano.

Em uma audiência no Congresso americano, a administradora da Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês), Anne Milgram, afirmou que os cartéis de Sinaloa e de Jalisco Nova Geração (CJNG) somam mais de 45 mil integrantes, entre membros, associados, facilitadores e representantes em cerca de cem países.

Ainda segundo Milgram, os dois grupos criminosos estão presentes em 21 e 19 dos 31 estados do México, respectivamente, e a DEA busca mapear como ambos estão espalhando suas atividades pelo mundo.

O depoimento da administradora da DEA não foi bem recebido por Obrador, que sempre busca minimizar a presença e força dos cartéis de drogas mexicanos. Em entrevista coletiva no dia seguinte, o presidente esquerdista disse que seu governo não tem a “informação” divulgada por Milgram aos congressistas americanos.

“Não sei de onde a senhora da DEA tirou isso, espero que nos deem mais detalhes, porque acho que ela falou sobre o cartel de Sinaloa e o cartel de Jalisco Nova Geração com 40 mil [integrantes] (...). Que nos diga quais provas ela tem”, questionou Obrador, que alegou falta de “coordenação” entre os órgãos do governo americano.

O presidente mexicano não apresentou dados próprios sobre o tamanho dos cartéis de drogas, mas argumentou que seu governo sabe “onde eles estão agindo, de acordo com os dados dos crimes cometidos”.

Nessa linha, sugeriu que esses grupos criminosos estariam perdendo poder: segundo Obrador, “cerca de 70% dos crimes no país têm a ver com confrontos entre grupos criminosos”, mas ocorreu uma redução de 10% no número de homicídios no México em 2022 e a projeção é de queda de 17% em 2023.

Obrador já havia rebatido em março alegações dos vizinhos ao norte de que os cartéis mexicanos operavam fora de controle, após um episódio trágico: quatro americanos foram sequestrados em Matamoros, no estado mexicano de Tamaulipas, na região fronteiriça com os Estados Unidos.

Dois deles foram encontrados mortos; uma mulher mexicana também foi morta. Os outros dois americanos foram localizados com vida. A facção Escorpiões do Cartel do Golfo admitiu a responsabilidade pelos crimes.

À época, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que várias regiões do México são totalmente controladas por cartéis de drogas e não pelo governo, o que desagradou Obrador. “Não há lugar no país que não tenha a presença de autoridades”, rebateu.

O presidente também se incomodou com o pedido de congressistas do Partido Republicano para que os Estados Unidos realizassem incursões militares no México para deter o crime organizado.

Obrador afirmou que o Estado mexicano “não permitiria que nenhum governo estrangeiro interviesse em nosso território, muito menos que as forças armadas de um governo [de outro país] interviessem”. “Além de ser irresponsável, é uma ofensa ao povo mexicano”, afirmou.

Mesmo parcerias com os americanos têm sido descartadas por Obrador: no ano passado, o presidente desmantelou uma unidade de investigação de elite local que durante décadas havia trabalhado com a DEA.

Presidente nega responsabilidade na crise do fentanil nos EUA

Entretanto, além dos números da agência americana sobre o tamanho dos cartéis mexicanos, um relatório divulgado pela DEA e pela Agência da União Europeia para a Cooperação Policial (Europol) no final do ano passado deixou claro que os tentáculos dos cartéis do México se estendem por todo o mundo.

Segundo o documento, esses grupos estão trabalhando em parceria com redes criminosas baseadas na União Europeia (UE) para traficar metanfetamina e cocaína da América Latina para o bloco.

“Esta nova forma de colaboração criminosa também se estende à produção de metanfetamina e cloridrato de cocaína em alguns estados-membros da UE. Apesar de não haver indicações atuais de um mercado de fentanil na UE, a descoberta de instalações de produção de fentanil e apreensões da substância na UE levantam preocupações sobre o desenvolvimento de um mercado de fentanil”, alertaram a Europol e a DEA.

No ano passado, o fentanil foi responsável por dois terços das 110 mil mortes por overdose nos Estados Unidos (recorde no país), e sabe-se que o México é o grande fabricante e a grande ponte para a entrada da droga em território americano. Obrador, porém, diz que a maior parte da culpa não pode ser atribuída ao seu país.

“Eu sustento que mais fentanil chega diretamente aos Estados Unidos e ao Canadá do que ao México”, argumentou.

Apesar dessa postura, no início de julho, o México aceitou fazer parte de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos contra o tráfico de fentanil e outros opioides sintéticos.

A China, que envia precursores químicos para a fabricação da droga no México, não manifestou interesse em participar. Resta saber se, com a postura negacionista de Obrador, a participação mexicana será de grande ajuda.

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