Londres - O presidente francês, Nicolas Sarkozy, resolveu atacar com dureza a Comissão Europeia, que ameaçou abrir na terça um processo contra a França por considerar ilegal a expulsão de ciganos de seu território.
"Não posso deixar minha nação ser insultada. Todos os chefes de Estado e de governo ficaram chocados com os comentários ultrajantes da senhora Reding, afirmou Sarkozy numa entrevista.
Ele se referia a Viviane Reding, comissária de Justiça da Comissão Europeia, que afirmou que era uma desgraça o tratamento dado pelo governo francês aos ciganos.
Desde julho, a França tem destruído acampamentos construídos por ciganos. Cerca de mil deles já foram enviados de volta para seus países de origem, principalmente Romênia e Bulgária.
Segundo Reding, a expulsão fere a liberdade de ir e vir entre os 27 países da União Europeia e é inaceitável por ser uma perseguição por razões étnicas.
Na terça, ela disse que "pensava que a Europa não precisaria testemunhar mais uma vez uma situação como esta após a Segunda Guerra Mundial, numa clara alusão à perseguição feita pelos nazistas aos judeus e também aos ciganos. Ontem, afirmou que em nenhum momento quis comparar a França com os nazistas.
O assunto ciganos dominou quase toda a agenda da reunião dos presidentes e premiers europeus, que estiveram em Bruxelas para discutir tratados comerciais e política externa do bloco.
A portas fechadas, Sarkozy disse que a comissão persegue a França. Houve também, segundo relato do primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borisov, um bate-boca aos gritos entre o presidente francês e José Manoel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. Sarkozy não negou a discussão, mas disse que não houve gritos.
Barroso foi mais evasivo e afirmou que cabe à comissão, órgão executivo da UE, zelar pelo cumprimento das leis do continente.
O presidente francês disse que irá continuar com o desmanche dos acampamentos ciganos e com o processo de "saída voluntária, quando oferece cerca de R$ 660,00 para que eles entrem num avião e voltem a seus países.
Afirmou ainda que a França tem não só o direito, mas a obrigação de fazer isso para manter a segurança de seus cidadãos.
Se for mesmo processada, a França poderá ter de pagar uma multa por desrespeitar as leis da UE. Pior que a multa é o desgaste de imagem, principalmente para um presidente que está com baixa popularidade em seu país e que tenta se reafirmar como um líder mundial.