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BeiDou

O que a China ganha tendo o seu próprio sistema de navegação por satélite

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Lançamento do 55º satélite do sistema de navegação BeiDou, em 23 junho (Foto: Divulgação/BeiDou)

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A China agora tem o seu próprio sistema de navegação por satélite em pleno funcionamento. O presidente Xi Jinping anunciou na sexta-feira passada (31) o comissionamento do BeiDou em uma cerimônia que contou com a presença dos principais líderes militares e governamentais do país. Com a conquista, a China alcança dois objetivos: reduzir a dependência do sistema americano GPS (sistema de posicionamento global) ao atender às necessidades de segurança nacional do país e impulsionar o desenvolvimento econômico e social.

O projeto iniciou em 1994 e o primeiro par de satélite do BeiDou foi lançado em 2000. Dezoito anos depois o sistema entrou em operação, oferecendo serviços básicos. Agora com todos os 35 satélites geoestacionários da terceira geração ativos - o último lançado em junho - o BeiDou oferece uma cobertura global com uma precisão de 10 centímetros, segundo as autoridades chinesas.

O porta-voz da BeiDou, Ran Chengqi, disse nesta segunda-feira (3) que mais de 500 componentes-chave do sistema foram "100% fabricados na China" e que o país continuará incentivando as empresas chinesas a produzir os componentes necessários para o BeiDou por meio de políticas tributárias, provisões de empréstimos e proteção dos direitos de propriedade intelectual.

O BeiDou, um investimentos de US$ 10 bilhões, vai competir com os sistemas de geolocalização já existentes: o GPS dos Estados Unidos, o Glonass da Rússia e o Galileo da União Europeia. Mas apesar desta concorrência, os operadores da BeiDou afirmaram que trabalharam junto com os demais países, inclusive os Estados Unidos, para garantir a compatibilidade com os sistemas já existentes.

Até o fim do ano passado, a tecnologia estava presente em 70% dos celulares da China.

Fator diplomático

Assim como o GPS, o sinal do Beidou é fornecido gratuitamente e não está em competição por participação de mercado. Ele faz parte da Rota da Seda Digital da China, abarcada na Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), e está presente em cerca de 120 países.

Vários serviços podem ser alavancados a partir da tecnologia: cidades modernas, agricultura de precisão, segurança pública, transporte, entre outros. Isso, aliado à avançada tecnologia 5G da Huawei, faz com que a China tenha mais prestígio e consiga alavancar oportunidades diplomáticas para obter mais influência junto a outros países e, inclusive, em organizações internacionais e regionais que lidam com questões globais de navegação por satélite, segundo afirmou Jordan Wilson, analista de Política, Segurança e Relações Exteriores, em um relatório para o governo americano.

Fator militar

Com o BeiDou as forças armadas da China não vão mais depender do GPS para guiar seus mísseis. O avanço é especialmente importante considerando-se o crescente conflito entre a China e os Estados Unidos, não só na diplomacia e nas relações comerciais, mas também com aumento da atividade militar no Mar da China Meridional.

O sistema independente permitirá aos militares da China empregar armas de ataque convencionais guiadas pelo BeiDou mesmo se o acesso ao GPS for negado. A China também seria capaz de atacar o acesso de um adversário ao GPS sem interromper seus próprios recursos.

A agência estatal chinesa Xinhua publicou um comentário em julho afirmando que o desenvolvimento de tecnologia própria para o BeiDou ajudaria a China a garantir sua própria segurança nacional contra a “"cortina de ferro tecnológica" dos Estados Unidos.

“Do ponto de vista da defesa, é difícil dizer se BeiDou é superior [ao GPS]”, disse à Reuters Alexandra Stickings, analista de pesquisa do Instituto Real de Serviços Unidos para Estudos de Defesa e Segurança, da Grã-Bretanha. “Um obstáculo a ser enfrentado será a atualização de receptores em plataformas militares, o que levará tempo”, reiterou.

Potência espacial

A China pretende se tornar uma potência espacial, ao lado dos EUA e da Rússia, até 2030. Além de investir em seu próprio sistema de navegação, o país planeja construir uma estação espacial chinesa e já deu os primeiros passos nesse sentido: lançou com sucesso seu maior e mais novo foguete, o Long March-5B, que levou ao espaço uma versão experimental de uma nave espacial tripulada de nova geração.

A China também tem ambições em Marte e em julho lançou sua primeira missão interplanetária independente que deve pousar no Planeta Vermelho no ano que vem. Em janeiro de 2019, o país conseguiu pousar com sucesso no lado oculto da lua.

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