VATICANO - O Papa Bento XVI afirma em sua primeira encíclica, publicada nesta quarta-feira, que o amor por excelência é entre um homem e uma mulher. No documento, chamado de "Deus caritas est", o chefe dos católicos também diz que a Igreja não pode substituir o Estado na hora de buscar a justiça e que "o sonho marxista se perdeu".
A encíclica - carta solene que o Papa dirige a bispos e fiéis católicos de todo o mundo - está dividida em duas partes: "A unidade do amor na criação e na história da Salvação" e "Caridade, exercício do amor de Deus por parte da Igreja como comunidade de amor".
A primeira parte faz uma reflexão teológico-filosófica sobre o amor em suas diferentes dimensões - erotismo, amizade e entrega. A segunda trata da aplicação concreta do mandamento cristão "amarás ao próximo como a ti mesmo".
Sobre o termo "amor", o Pontífice destaca no texto que ele se converteu em uma das palavras mais usadas e também uma das que mais se abusa.
"Fala-se de amor pela pátria, pelos pais, pelo trabalho, por Deus, mas entre todos eles o amor por excelência é entre um homem e uma mulher, no qual intervêm inseparadamente o corpo e a alma", escreveu Joseph Ratzinger.
Em relação ao outro tema abordado na encíclica, o Papa afirma que, para a Igreja Católica, a caridade não é uma assistência social que pode ser passada a outros, mas que na verdade pertence à sua natureza e que a Santa Sé deve lutar para que ninguém sofra pela falta do que é mais necessário.
Diante do binômio justiça-caridade, o Pontífice alemão recorda que, desde o século XIX são feitas objeções à atividade caridosa da Igreja e que o marxismo defende que os pobres não necessitam de obras de caridade, mas de justiça.
Após reconhecer que "há algo de verdade" nessa afirmação, o Papa destaca que também "há muitos erros".
Para definir com mais precisão a relação entre justiça e caridade, Bento XVI assinala que a ordem justa da sociedade e do Estado é uma tarefa da política e que um Estado que não é regido pela justiça "se reduz a um grande bando de ladrões".