O papa emérito Bento XVI, que morreu neste sábado (31) aos 95 anos de idade, nunca pensou que viveria quase uma década após sua renúncia ao pontificado, em 2013, e passou os últimos anos pedindo perdão por "ser um fardo" às quatro leigas consagradas do Instituto "Memores Domini" que cuidaram dele durante todo esse tempo.
Nos últimos meses ele continuou a expressar o desejo de "ir à casa do Pai", segundo fontes próximas das quatro leigas que até o último momento não saíam de seu lado, revezando-se 24 horas por dia.
Quando o estado de saúde de Bento XVI já era muito frágil, ele se desculpava continuamente com essas mulheres, dizendo que "era um fardo para elas" e que "não pretendia durar mais de quatro ou cinco anos" após o anúncio de sua renúncia, em fevereiro de 2013, justamente porque "não se sentia suficientemente forte" para continuar com o pontificado.
Nos últimos dias, a assessoria de imprensa do Vaticano explicou que Bento XVI participou de missas, e isso foi confirmado por pessoas próximas a ele, que contaram que "embora não estivesse mais respirando bem, levantou seus braços nos momentos apropriados da celebração".
Aqueles que o conheciam de perto diziam que "ele sempre foi uma pessoa muito serena" e que só perdeu essa serenidade com o caso Vatileaks - o vazamento de documentos por parte de seu mordomo Paolo Grabriele.
"O demônio entrou nesta casa", afirmava Bento XVI a pessoas próximas.
De acordo com elas, o papa emérito viveu com "silêncio" e "reflexão" o momento após sua renúncia e a eleição do sucessor.
"Foi somente com a eleição de Francisco que ele ficou tranquilo", acrescentou.
A mesma simplicidade com a qual viveu isolado no mosteiro "Mater Ecclesiae" nos últimos quase 10 anos no Vaticano ele pediu que fosse adotada em seu funeral.
O papa Francisco vai oficiar o funeral do pontífice emérito na próxima quinta-feira, às 9h30 (5h30 de Brasília) na Praça São Pedro, informou o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni.
Secretário de Bento XVI publicará suas memórias contra "calúnias"
O secretário pessoal do papa emérito Bento XVI, monsenhor Georg Gänswein, publicará em janeiro um livro com as memórias durante seu tempo de serviço ao pontífice alemão, que morreu neste sábado aos 95 anos, para enfrentar “as calúnias" de alguns que o criticam.
O livro "Nient'altro che la veritá. La mia vita al fianco di Benedetto XVI" ("Nada além da verdade. Minha vida ao lado de Bento XVI", em tradução livre), será publicado pela editora Piemme de Mondadori "no início de janeiro" de 2023, de acordo com um comunicado.
"Estas páginas contêm um testemunho pessoal da grandeza de um homem calmo, um fino estudioso, um cardeal e um papa que fez a história do nosso tempo. Mas também são uma narrativa em primeira pessoa que tenta esclarecer alguns aspectos incompreendidos de seu pontificado e descrever por dentro o verdadeiro 'mundo vaticano'", disse Ganswein.
O papa emérito Bento XVI escolheu Gänswein, então um jovem padre alemão, como seu secretário há duas décadas, em 2003.
Foi o início de uma relação íntima que continuou quando em 2005 Joseph Ratzinger foi eleito pontífice, sucessor de João Paulo II, e após sua renúncia.
Ganswein, prefeito da Casa Pontifícia, prometeu publicar em seu livro "a própria verdade sobre as calúnias miseráveis e as manobras obscuras que tentaram em vão lançar sombras sobre o magistério e as ações do pontífice alemão".
Instituições do Vaticano expressam “dor” pela morte de Bento XVI
"Não é o momento para muitas palavras, mas para a dor", disse o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, depois de anunciar que o funeral do papa emérito Bento XVI será no dia 5 de janeiro na Praça de São Pedro, oficiado por Francisco e com total "simplicidade e sobriedade", como havia pedido Joseph Ratzinger.
"A Academia Pontifícia para a Vida compartilha a dor da Igreja pela morte do papa emérito Bento XVI. Recordamos o seu serviço 'na vinha do Senhor', recordamos-o como uma das personalidades teológicas de maior autoridade do século XX, esforçando-se constantemente para tornar a fé compreensível ao homem moderno", disse o presidente desta instituição, Vicenzo Paglia.
Seu porta-voz ao longo de seu pontificado, o sacerdote Federico Lombardi, escreveu em um longo editorial publicado pela imprensa vaticana que Bento XVI "deu um belo testemunho de como viver na fé a crescente fragilidade da velhice por muitos anos até o fim. O fato de ter renunciado ao papado no momento oportuno permitiu a ele, e a nós com ele, trilhar este caminho com muita serenidade”.
"Entre as muitas coisas que podem ser lembradas de seu pontificado, o que honestamente me pareceu e continua parecendo o mais extraordinário foi que nesses mesmos anos ele conseguiu escrever e completar sua trilogia sobre Jesus", acrescentou.
O organizador das viagens de João Paulo II e Bento XVI, Alberto Gasbarri, uma das pessoas mais próximas dos dois pontífices, também escreveu na mídia vaticana que “Bento XVI foi o papa da doçura”.
“Meu testemunho tende a revelar um aspecto talvez menos conhecido de sua personalidade: a doçura que se captava em um encontro com ele. Sua figura aparentemente austera poderia incutir distanciamento e frieza em muitos, mas em sua alma o papa Bento estava cheio de doçura e a severidade temida por alguns muitas vezes deu lugar a uma bondade desarmante, muitas vezes acompanhada de um senso de humor sutil e espirituoso", declarou.
Já o presidente dos bispos europeus, monsenhor Gintaras Grušas, recordou em particular o "magistério europeu que Bento XVI desenvolveu durante o seu pontificado, ressaltando a importância das raízes cristãs da Europa e destacando o necessário retorno a Cristo e a evangelização para a construção de uma civilização de amor".
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