Berlusconi sobrevoa a pequena cidade medieval de L´Aquila, na Itália| Foto: Livio Anticoli / Reuters

Veja que pelo menos setenta mil pessoas terão que passar muitas noites em tendas

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Ainda não é possível prever terremotos, dizem especialistas

A impossibilidade de prever tremores de terra impede que uma tragédia como essa tenha consequências menores.

O tremor foi registrado por sensores em Lisboa, a mais de 1,8 mil quilômetros do epicentro. Os maiores especialistas da Europa dizem que a ciência ainda não é capaz de fazer previsões.

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Casal londrinense vive momentos de pavor durante tremor de terra

Um casal de Londrina viveu momentos de pavor durante o terremoto que atingiu o centro da Itália na madrugada desta segunda-feira (6). Gabriele e Márcio Forte moram em Montesilvano, na região de Abruzzo, a 60 quilômetros de L´Áquila, epicentro do terremoto. Segundo a família do casal, não houve grandes estragos na cidade na qual eles residem. Márcio Forte há oito anos joga futsal na Itália e, por ter tem dupla cidadania, defende a seleção italiana.

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Mãe serve alimento à filha, de seis anos: feridos receberam atendimento médico nas ruas por falta de hospitais
Região destruída na cidade de L´Aquila, onde foi registrado o maior número de mortos: equipes de resgate entraram a madrugada em busca de sobreviventes no meio dos escombros
Bombeiros buscam sobreviventes no meio dos escombros no vilarejo de Onna, na Itália
Pelo menos quatro igrejas foram danificadas

O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi decretou estado de emergência na região afetada pelo terremoto na Itália, nesta segunda-feira (6). O número de mortos do terremoto que atingiu, durante a madrugada, a região central do país, já passa de 150. Segundo as autoridades, ficaram feridas 1.500 pessoas, e pelo menos 70 mil estão desabrigadas. Os desabrigados devem passar a noite em tendas improvisadas e hotéis, segundo o governo. Cerca de 60 pessoas foram resgatadas vivas dos escombros.

Berlusconi fez uma reunião extraordinária com o conselho de ministros e anunciou o desbloqueio de 30 milhões de euros do fundo de emergência. O premiê cancelou a agenda (iria viajar para Moscou) e visitou de helicóptero a região atingida.

Depois de 25 horas de trabalhos, os socorristas continuam buscando sobreviventes e acreditam que ainda há centenas de pessoas entre os destroços.

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Os esforços são prejudicados pela chuva que cai na cidade atingida, depois de um dia ensolarado nesta segunda-feira (6).

A água fez com que a poeira virasse lama de cor clara, mas, mesmo assim, as equipes continuaram a remover os escombros com as mãos. As equipes evitam o uso de escavadeiras e tratores para que não ocorram deslizamentos.

O premiê Silvio Berlusconi disse que mil barracas serão instaladas para abrigar entre 8 e 10 pessoas cada. Outras 4.000 pessoas serão levadas a hotéis da região.

L'Aquila, pequena cidade medieval de 60 mil habitantes que foi a mais atingida pelo tremor, vive uma noite de "cidade fantasma".

Nenhuma rua do centro histórico - praticamente vazio - se salvou, e os destroços tomam a cidade.

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"Embaixo tem mortos, é proibido tirar fotos ou entrar", disse um policial em uma ruela central coberta de muros derrubados e vidros quebrados.

A cidade está em silêncio, e os moradores temem voltar para suas casas, ainda ameaçadas de ruir. Vários deles partiram dali.

Policiais patrulham os escombros e checam casa por casa, em uma tentativa de ajudar os moradores mais velhos e de evitar a ação de saqueadores.

Vários carros continuam enterrados pelos escombros, e um sino segue caído no chão depois de ter se desprendido de uma torre de igreja a 15 metros de altura.

O tremor ocorreu de madrugada, quando a maioria dos habitantes dormia.

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Os danos atingiram a maior parte da cidade de L'Aquila. Pelo menos 10 mil imóveis foram danificados. Um albergue de estudantes e algumas igrejas históricas ruíram. Carros foram soterrados pelos escombros, e motoristas demoraram horas para serem resgatados.

"Eu acordei ouvindo um barulho que parecia uma bomba", disse Angela Palumbo, de 87 anos, moradora que estava em uma rua de L'Aquila. "Conseguimos escapar com as coisas caindo em nosso redor. Tudo estava chacoalhando, os móveis caindo. Não lembro de ter visto nada parecido na vida."

O governo italiano decretou estado de emergência na região de Abruzzo.

Vidas em jogo

Segundo o diário "Corriere della Sera", seis estudantes que estavam na Casa do Estudante, em L´Aquila, foram retirados com vida após terem sido soterrados por escombros 16 horas depois do abalo sísmico que matou mais de 150 pessoas. Destes, somente um não conseguiu sobreviver após chegar no hospital.

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Em San Gregorio (L´Aquila), uma mãe salvou a filha de 2 anos ao usar o próprio corpo como escudo para proteger a menina. A criança foi levada de helicóptero para um hospital.

Já em Abruzzo uma mãe acabou sendo encontrada abraçada com os dois filhos. Os três, que moravam em um prédio de quatro andares, foram encontrados mortos.

Em Fossa, uma garota russa de 3 anos, que morava com a família na região há um mês, morreu. Sua irmã gêmea conseguiu sobreviver e a sua mãe se feriu.

Relatos de brasileiros

A brasileira Luisa Gomes Mendonça, de 42 anos, mora em Riano, na província de Roma, e contou ao portal G1, por telefone, que sentiu o tremor na madrugada. "O cachorro latiu e nós sentimos tudo tremendo. Até saímos na rua para ver o que era". Ela disse que a família do marido mora na região afetada pelo terremoto, mas que estão todos bem.

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O estudante de psicologia Márcio Mattoso Boaventura, 25, que vive há dois anos e meio em Roma, testemunhuou os efeitos do terremoto e contou por telefone ao portal G1 que acordou apavorado. "Acordei apavorado, sem saber o que estava acontecendo. Minha cama e o lustre balançavam, e eu senti o prédio dançar". Ele acrescentou ainda que os moradores saíram de seus quartos para ver o que tinha acontecido.

"A sensação é de não saber o que vai acontecer. O terremoto durou cerca de 30 segundos, mas parecia que ele se estendeu por um minuto", afirmou Boaventura, que é natural de São Paulo. Ele afirma que, pelo fato de nunca ter testemunhado algo parecido, demorou para entender a situação.

Segundo o estudante, hoje só se fala sobre isso em Roma: "cada um quer contar sua experiência". "A dona da casa onde moro, uma senhora italiana, já passou por isso outras vezes e sabia logo de cara que era um terremoto."

Para a brasileira Eloá Nascimento dos Santos, 25, a situação foi menos traumática. Ela mora há três meses em Roma e faz mestrado em economia, e na hora do terremoto ela estava dormindo. "Senti a cama tremer, mas ela não saía do lugar porque estava presa a um móvel. Eu estava com febre alta e, por isso, cheguei até a achar que era alucinação", contou a estudante que, no Brasil, vivia em Santa Tereza (RJ).

Seu namorado, Luis Juracy Rangel Lemos, 29, chegou a acender a luz, mas também voltou a dormir. "Só hoje pela manhã, quando a vizinha veio comentar com a gente, descobrimos que era um terremoto. Só se fala nisso, estão todos bastante preocupados com as áreas mais atingidas. Perto de nós, não houve incidentes mais graves", afirmou a estudante.

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Segundo ela, somente os italianos souberam imediatamente que se tratava de um terremoto. "Minha vizinha ficou com o filho perto de uma pilastra, por uma questão de segurança."

Intensidade

Esse foi o mais forte terremoto na Itália desde 1980, que provocou a morte de 2.700 pessoas no sul do país. O tremor de cerca de 30 segundos, que ocorreu às 3h45 desta segunda (22h45 de domingo em Brasília) fez Roma tremer de susto. Moradores assustados deixaram suas casas para buscar proteção nas ruas, com medo de possíveis desabamentos. Algumas casas e prédios do centro histórico da capital italiana sofreram pequenos danos.

O Centro Nacional de Informações de Terremotos dos Estados Unidos informou que o terremoto atingiu 6,3 graus na escala aberta de momento, e teve epicentro a 95 km de Roma, a uma profundidade de 10 km, às 3h32 locais (22h13 de Brasília).

Entretanto, o diário italiano "La Repubblica" informa, na sua página na internet, que a magnitude do tremor foi de 6,7 graus, e o epicentro teria sido localizado em Arischia, entre as regiões de Lazio e Abruzzo.

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Na província de L’Aquila, em Abruzzo, 26 municípios foram atingidos. Na capital da província, também chamada de L’Aquila, cidade frequentada por 100 mil universitários, a república de estudantes desabou, matando vários deles.

Danos ao patrimônio histórico

L’Aquila, uma cidade medieval do século XIII perdeu boa parte do seu patrimônio histórico. A cidade foi construída a mando de dois imperadores alemães do Sacro Império Romano-Germânico, Frederico II e seu filho Conrado IV, ao longo do século XIII. A região passou a integrar o reino de Nápoles, um dos estados independentes que existiam na Itália antes que o país fosse unificado no século XIX, e ficou sob domínio francês, espanhol e papal através dos séculos.

Como o reino de Nápoles foi governado, ao longo dos séculos, por uma série de dinastias de origem francesa e espanhola, a história e a arquitetura da cidade são marcadas por essa influência. Um dos exemplos importantes é o chamado Forte Spagnolo ("fortaleza espanhola"), erguido em 1534 pelo vice-rei espanhol Dom Pedro de Toledo. A cidade também tem belas igrejas, como a basílica de São Bernardino de Siena, construída em 1472, a qual contém o túmulo do santo, e Santa Maria di Collemaggio, que abriga o mausoléu do Papa medieval Celestino V.

Na região de Áquila também ficam as ruínas da cidade romana de Amiternum. Fortalezas medievais, como a chamada Rocca Calascio, e montanhas da área serviram de cenário para filmes como "O feitiço de Áquila" (1985) e "O nome da rosa" (1986).

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Uma igreja, das Santas Almas, ganhou esse nome depois do terremoto de 1703 que destruiu toda a cidade. Muitos mortos foram enterrados no local.

"O dano ao patrimônio cultural é mais sério do que imaginávamos", disse Giuseppe Proietti, funcionário do Ministério da Cultura da Itália em Roma. "O centro histórico de L'Aquila foi devastado". Segundo informações da Ansa, parte do teto da basílica de Santa Maria in Collemaggio, fundada no final do século 13, desabou.

A basílica, que tem uma fachada rosa e branca, combinando arquiteturas romanesca e gótica, abrigou a coroação do papa Celestino V em 1294 e atrai milhares de peregrinos todos os anos.

A Porta Napoli, construída em 1548 em uma das saídas das muralhas, também ficou destruída, bem como outras igrejas antigas da cidade.

A torre do sino da basílica renascentista de São Bernardino de Siena também despencou.

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Quatro igrejas romanescas e renascentistas e um castelo do século XVI foram parcialmente destruídos, segundo o Ministério da Cultura.

O superintendente de Arqueologia da capital, Roma, disse que as Termas de Caracalla sofreram danos superficiais por conta dos reflexos do tremor.

Polêmica

Um sismógrafo italiano que trabalha no Instituto Nacional de Geofísica da Itália (Inaf, na sigla em italiano), Giampaolo Giuliani, e que estuda terremotos há mais de dez anos no Abruzzo, previu o sismo e avisou as autoridades locais. Ele desenvolveu um método experimental para detectar terremotos e avisou as autoridades regionais no final de março que um grande terremoto iria golpear L'Aquila e a região do Abruzzo, porque mais de 30 terremotos pequenos foram registrados na região desde meados de fevereiro, segundo informações do diário milanês Corriere della Sera. O método consistiria na análise de um gás, o randon, que é liberado pela terra em grandes quantidades antes de um terremoto.

O chefe da Defesa Civil do Abruzzo, Guido Bertolaso, disse no dia 31 de março que "imbecis tentam difundir notícias falsas" sobre terremotos no Abruzzo, logo após o alerta de Giuliani, que havia previsto o terremoto para o dia 29 de março. Giuliano foi advertido pelas autoridades por "espalhar o pânico" em L'Aquila, cidade onde vive.

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Nesta segunda-feira, após o desastre, Giuliani falou com amargura ao Corriere della Sera: "Pode ser que amanhã me coloquem na cadeia, mas eu confirmo: não é verdade que os terremotos não possam ser previstos. Faz dez anos que nós conseguimos prever eventos deste tipo em uma distância de 100 a 150 quilômetros".

Na tarde desta segunda-feira, Bertolaso disse em L'Aquila, ao lado de Berlusconi: "todas as informações e os dados nas mãos dos maiores especialistas estabeleceram que não era prevista uma situação mais grave de terremoto que aquelas ocorridas nos últimos dias". As informações são da Agência Ansa.

Repercussão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma nota de condolência ao seu colega italiano, Giorgio Napolitano, por conta da tragédia.

O papa Bento XVI rezou pelas vítimas, em particular pelas crianças, informou o escritório de imprensa do Vaticano. "O papa expressa sua dor à população afetada e oferece orações pela vítimas, em particular pelas crianças", diz a nota.

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O presidente dos EUA, que estava na Turquia encerrando sua visita à Europa, também manifestou suas condolências às vítimas.

O governo dos Estados Unidos anunciou que doará US$ 50 mil em ajuda de emergência para os desabrigados pelo terremoto.