Igreja
Vaticano ordenou a bispos não relatarem abusos
Uma carta do Vaticano escrita em 1997 e divulgada apenas ontem pedia que os bispos católicos da Irlanda não relatassem à polícia todos os casos de suspeita de abuso sexual contra crianças.
A revelação pode resultar na abertura de mais processos em todo o mundo contra o Vaticano, que nega qualquer envolvimento no acobertamento dos casos.
A carta, obtida pela emissora irlandesa RTE e fornecida à Associated Press, documenta a rejeição do Vaticano a uma iniciativa da igreja irlandesa de começar a ajudar a polícia a identificar os padres pedófilos.
A mensagem da carta enfraquece as persistentes afirmações do Vaticano de que a igreja nunca instruiu os bispos a sonegar evidências ou suspeitas de crimes da polícia. Em vez disso, o documento enfatiza o direito da igreja de tratar todas as acusações de abusos e de determinar punições internamente e não entregar a questão às autoridades civis.
Integrantes da igreja na Irlanda negaram os pedidos de esclarecimentos sobre a carta feitos pela AP. A RTE informou que recebeu o documento de um bispo irlandês.
Ativistas irlandeses dizem que a carta de 1997 demonstra, de uma vez por todas, que a proteção aos padres pedófilos contra investigação criminal não era apenas sancionada pela liderança do Vaticano, mas era uma ordem da Santa Sé.
O Vaticano argumentou, no caso de dezenas de processos por abusos sexuais nos Estados Unidos, que nunca ordenou às autoridades eclesiásticas que escondessem evidências de crimes.
"A carta é de grande significado internacional, porque mostra que a intenção do Vaticano era evitar o relato dos abusos às autoridades criminais. E, se a instrução se aplica aqui, ela se aplica em qualquer lugar", disse Colm OGorman, diretor da divisão irlandesa da Anistia Internacional.
São Paulo - O premier italiano, Silvio Berlusconi, disse ontem que não renunciará ao cargo devido à investigação sobre alegações de que ele pagou para fazer sexo com uma dançarina de 17 anos. "O quê, vocês estão loucos?", disse Berlusconi quando questionado se iria ceder aos apelos da oposição para que renunciasse. "Estou absolutamente calmo, me divertindo."
Berlusconi enfrenta uma pressão crescente para renunciar depois que magistrados de Milão alegaram que muitas mulheres se prostituíram para o premier, incluindo a dançarina de 17 anos, conhecida como "Ruby, Ladra de Corações".
De acordo com o documento divulgado pelos promotores, um número "significativo" de jovens mulheres se prostituiu para Berlusconi. Eles também suspeitam que o premier tenha permitido que várias delas, em troca de sexo, usassem gratuitamente apartamentos em um condomínio próximo a Milão.
Os promotores enviaram o documento à Câmara para justificar seu pedido de busca e apreensão no escritório de uma pessoa ligada a Berlusconi, acusada de ter feito os pagamentos às mulheres. Uma comissão especial do Parlamento vai decidir nesta semana se acatará ou não o pedido.
De acordo com o documento, Nicole Minetti, funcionária do governo regional da Lombardia e dentista do premier, recrutou "um número significativo de jovens mulheres que se prostituíam com Silvio Berlusconi." Minetti, ex-dançarina que também está sob investigação, nega ter agenciado prostitutas.
"Perseguição"
Berlusconi, de 74 anos, também nega qualquer crime, e se diz vítima de uma perseguição política dos magistrados. No domingo, ele declarou que nunca pagou para fazer sexo, e afirmou viver uma relação estável com uma mulher desde que se separou da sua segunda esposa.
Em 2009, ao apresentar o pedido de divórcio, Veronica Lario disse que não poderia mais conviver com um homem que "sai com menores [de idade]."
O novo incidente ocorre em um momento delicado para Berlusconi, que nos últimos meses perdeu a maioria sólida no Parlamento, após romper com seu aliado Gianfranco Fini. Na semana passada, a Suprema Corte do país derrubou parcialmente um dispositivo legal que garantia imunidade judicial ao premier.
Em nota oficial, o presidente da República, Giorgio Napolitano, admitiu "a perturbação" da opinião pública diante das graves acusações.