Em uma votação apertada, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, obteve ontem um voto de confiança do Parlamento e sobreviveu a uma das mais sérias ameaças de retirá-lo do poder, nas quase duas décadas que o bilionário da mídia está na política italiana. O político conservador obteve o apoio de 316 membros da Câmara Baixa, enquanto 301 dos deputados votaram contra o líder.
Manifestantes em Roma jogaram ovos contra o prédio do Parlamento e gritaram "vergonha".
Analistas políticos e financeiros estão céticos com as possibilidades de Berlusconi resolver os graves problemas econômicos da Itália.
"O melhor sinal que a Itália poderia enviar aos mercados seria tirar Berlusconi do poder, mas o país fracassou em fazer isso", disse Sony Kapoor, diretor gestor do think tank Re-Define. "Com Berlusconi ainda no comando, não existe nada que a Itália possa fazer para restaurar a confiança dos mercados", acrescentou.
Caso perdesse a votação, o governo cairia e Berlusconi seria obrigado a convocar eleições, no momento em que a Itália luta para superar a crise da dívida europeia e reforçar a economia nacional.
Foi a oitava votação do tipo em 2011 e a nona nos últimos 12 meses para o primeiro-ministro, que tem usado os votos de confiança para reforçar a coesão de seu grupo político. Desde que chegou ao poder Berlusconi sobreviveu a 51 votos de confiança.
Os críticos, porém, dizem que, ainda que Berlusconi tenha força para se manter no poder, não possui mais a autoridade para aprovar reformas políticas dolorosas necessárias para a economia italiana. "Esta emboscada falhou", disse Berlusconi antes da divulgação do resultado, referindo-se à oposição de centro-esquerda, que tentava realizar manobras protelatórias a fim de forçar o premiê a uma renúncia.
A Itália tem dívidas de 1,9 trilhão de euros, ou 120% do Produto Interno Bruto (PIB), e a taxa de crescimento econômico mais fraca da zona do euro. "Berlusconi é o último dos moicanos. Ele acredita que 316 votos vão resolver os problemas", disse Pier Ferdinando Casini, líder da União Democrática Cristã (UDC). Casini acredita que apesar da vitória, Berlusconi continuará enfraquecido. Alguns políticos da oposição notam que a cada voto de confiança Berlusconi tem menos deputados na Câmara.
Mas o premiê tem sobrevivido a escândalos políticos e de prostituição, a várias gafes e também a um divórcio que foi praticamente público. Ele sempre manteve que é inocente, frente às acusações de corrupção e evasão fiscal, e afirma ser perseguido por "juízes comunistas".
O premiê de 75 anos no momento é réu em três julgamentos, um por corrupção, outro por evasão fiscal e num terceiro é acusado de ter pago para fazer sexo com uma menor de 17 anos.