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Estados Unidos

Biden, ano 1: gafes diplomáticas, inflação, brigas na Justiça e algumas vitórias

Biden faz juramento durante sua cerimônia de posse, em 20 de janeiro (Foto: EFE/EPA/ERIN SCHAFF)

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Um clichê da política é que o primeiro ano de mandato é sempre o mais difícil. O americano Joe Biden, o mais velho presidente a exercer mandato nos Estados Unidos (está com 79 anos), concordaria: com gafes diplomáticas, disputas na Justiça, maior inflação em décadas, popularidade em baixa e poucas vitórias, o ano inaugural dos quatro para os quais foi eleito em novembro de 2020 termina com muitas dores de cabeça e pouco a comemorar.

A confusão na presidência de Biden começou antes mesmo dele tomar posse, com a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro, quando o Congresso americano realizava sessão para ratificar sua vitória sobre Donald Trump.

O ex-presidente republicano se manteve no encalço do democrata, direcionando sua metralhadora verbal para o atual ocupante da Casa Branca e já antecipando uma tentativa de voltar ao cargo na próxima eleição, mas Biden deu o troco ao colaborar para a grande pedra no sapato de Trump em 2021: negou privilégio executivo sobre registros da presidência do seu adversário relativos à invasão ao Capitólio, privilégio que o republicano advoga para si na Justiça para evitar que os documentos sejam entregues a uma comissão da Câmara dos Representantes que investiga o tumulto.

Um embate entre os rivais de 2020 e, talvez, 2024 já é pressentido nas pesquisas de avaliação de mandato: em novembro, um levantamento realizado pelo jornal USA Today e pela Universidade de Suffolk apontou que Biden tinha índices de aprovação e desaprovação piores dos que o antecessor apresentava no mesmo momento do seu mandato entre eleitores registrados para votar (ainda que dentro da margem de erro): 37,8% dos entrevistados disseram aprovar o trabalho do democrata e 59% desaprovaram.

Outro dissabor recente é a inflação: o Departamento de Estatísticas sobre Trabalho dos Estados Unidos divulgou que a inflação no país registrada em novembro foi a maior para um período de 12 meses desde junho de 1982 (6,8% antes do ajuste sazonal).

Ainda na política interna, Biden sofreu derrotas importantes na Justiça, apesar de ter revertido por ora a derrubada da obrigatoriedade de vacinação contra a Covid-19 para funcionários de empresas com mais de cem empregados (outra, para profissionais de saúde, está suspensa em 24 estados): a decisão da Suprema Corte de manter uma nova lei que restringe o aborto no Texas (questionada pelo Departamento de Justiça) até o julgamento do mérito e a determinação judicial para restabelecer o programa Permanecer no México, que obriga os solicitantes de asilo a aguardar no território mexicano enquanto seus casos tramitam nos Estados Unidos, medida da era Trump que Biden havia classificado como desumana.

Ocorreram vitórias, porém: apesar de rachas no Partido Democrata atrapalharem mais que a oposição republicana, Biden conseguiu aprovar um pacote de US$ 1,2 trilhão para investimentos em infraestrutura; outro, de US$ 2,2 trilhões, com medidas sociais e ambientais, passou na Câmara dos Representantes e precisa ser votado no Senado.

Afeganistão e Haiti: mal na foto

Apesar dos problemas de Biden dentro de casa, foi pela política externa que ele sofreu as maiores críticas do seu primeiro ano de gestão. A volta do Talibã e a retirada desastrada das tropas do Afeganistão, após 20 anos de presença americana no país, geraram uma crise humanitária, imagens impactantes de pessoas abarrotando aviões para fugir do país (a crise migratória de milhares de haitianos acampados em torno de uma ponte na fronteira com o México também gerou registros memoráveis – no pior sentido) e acusações de abandono por parte de aliados.

Não ajudou nada o fato de Biden, pouco depois, ter anunciado um acordo militar com Austrália e Reino Unido, que desagradou a União Europeia por ter provocado o cancelamento de um acordo dos australianos com a França para compra de submarinos.

O Aukus, como foi chamada a parceria, foi fruto de uma das obsessões de Biden: confrontar a China. Com condenações à violação dos direitos humanos em Xinjiang, críticas a ações comerciais de Pequim e o anúncio de um boicote diplomático aos Jogos de Inverno na capital chinesa, que serão realizados em fevereiro, Biden angariou solidariedade na comunidade internacional, mas é cobrado para fazer mais no apoio a Taiwan, contra quem a ditadura de Xi Jinping vem subindo o tom.

As mesmas cobranças são feitas ao presidente americano com relação a Moscou: com os russos novamente batendo à porta da Ucrânia e expectativa de um ataque (segundo relatos) já em janeiro, o segundo ano da era Biden pode começar tão complicado quanto foi 2021 inteiro.

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