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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Iraque, Mustafa al-Kadhimi, fecharam um acordo para encerrar formalmente a missão de combate dos EUA no Iraque até o final de 2021. Os dois líderes se encontraram na Casa Branca na segunda-feira (26).
Ao anunciar o fim das atividades de combate no Iraque, Biden não esclareceu quantos militares dos EUA, dos cerca de 2.500 atualmente estacionados na região, permanecerão no país do Oriente Médio. O presidente americano informou que as tropas passarão exclusivamente a auxiliar os iraquianos com treinamentos e consultorias, atividades que já vinham sendo conduzidas.
"Nosso papel no Iraque será estar disponível, continuar a treinar, dar assistência, ajudar e lidar com o Estado Islâmico quando ele surgir, mas não estaremos mais, no final do ano, em uma missão de combate", disse Biden a repórteres no Salão Oval da Casa Branca durante o encontro.
O anúncio segue a decisão do governo americano de retirar todas as suas tropas do Afeganistão até o final deste ano.
Um comunicado conjunto dos dois países afirma que "a relação de segurança irá fazer a transição completa para um papel de treinamento, aconselhamento, assistência e compartilhamento de inteligência, e não haverá forças dos EUA com um papel de combate no Iraque em 31 de dezembro de 2021".
Autoridades afirmaram ao Voice of America que a ênfase da presença americana no Iraque estará em impedir que se repitam os acontecimentos de 2014, quando o Estado Islâmico (EI) tomou grandes partes do território iraquiano, incluindo Mosul, a terceira maior cidade, e dezenas de milhares de combatentes se espalharam pelo Iraque. Na época, as forças do governo iraquiano quase colapsaram e os atentados suicidas ocorriam constantemente.
"Ninguém irá declarar 'missão cumprida'", disse uma autoridade americana a jornalistas na véspera do encontro entre os dois líderes, fazendo uma possível referência ao discurso em maio de 2003 em que o então presidente George W. Bush declarou que as operações de combate estavam encerradas no Iraque.
"O objetivo é a derrota duradoura do EI. Reconhecemos que é preciso manter a pressão sobre essas redes enquanto elas buscam se reconstituir, mas o papel das forças dos EUA e da coalizão pode retroceder muito, para o segundo plano, onde estamos treinando, aconselhando, compartilhando inteligência, ajudando com a logística. É aí onde estamos agora", afirmou a autoridade, noticiou o VoA.
O governo iraquiano declarou vitória sobre o Estado Islâmico em 2017, mas remanescentes do grupo continuam a realizar atentados suicidas. Na semana passada, o EI assumiu a autoria de um ataque que deixou mais de 30 mortos em um mercado na capital Bagdá.
Recentemente, bases que abrigam tropas americanas e diplomatas dos EUA foram alvos de ataques de drones e foguetes, que o governo americano e analistas atribuíram a milícias apoiadas pelo Irã.
Khadimi tem trabalhado com os EUA e tenta combater a atuação dessas milícias alinhadas ao Irã. Mas o seu governo condenou o bombardeio americano a posições de milícias na Síria e no Iraque em junho, descrevendo-o como uma violação à soberania iraquiana.
No Iraque, a presença americana é motivo de controvérsia; alguns defendem o apoio militar dos EUA enquanto outros, incluindo grupos políticos pró-Irã, pedem a retirada das tropas.
O que a decisão significa na prática?
Segundo analistas, diferentemente do que está ocorrendo no Afeganistão, uma retirada massiva das tropas americanas do Iraque não é esperada. Kirsten Fontenrose disse ao Atlantic Council que "no Iraque a redução [de tropas] é mais um reequilíbrio, removendo as forças de combate e substituindo-as por treinadores que continuarão a aumentar a capacidade dos serviços de segurança iraquianos".
Outros analistas apontaram que o anúncio de Biden tem efeitos mais simbólicos do que práticos, já que há mais de um ano as tropas americanas no Iraque não atuam em missões de combate.
"Parece mais um exercício de remodelação, projetado para ajudar [al-Kadhimi] politicamente e para agradar os grupos iraquianos que estão fazendo coro ao pedido para a retirada das tropas", disse Aron Lund, especialista em Oriente Médio da Century Foundation, ao jornal americano Politico. "Acho que todos percebem que há um pouco de teatro envolvido aqui", concluiu.
Presença americana no Iraque
Uma coalizão liderada pelos Estados Unidos invadiu o Iraque em março de 2003, com base em acusações de que o regime de Saddam Hussein abrigava armas de destruição em massa. Saddam foi removido do poder e as armas nunca foram encontradas.
A retirada das tropas americanas do Iraque - que chegaram a totalizar 170 mil em 2007 - foi encerrada em dezembro de 2011, colocando um fim à guerra. Em 2014, com o avanço do Estado Islâmico da Síria para regiões do Iraque, houve uma nova intervenção dos EUA, com forças de outros países, para combater o grupo extremista islâmico. Nos anos recentes, a missão americana se concentrou em ajudar a combater os militantes do EI no Iraque e na Síria.