O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, anunciou recentemente que está se aposentando do serviço público depois de 30 anos de carreira no Departamento de Estado americano. Ele é embaixador no Brasil desde março de 2020, mas sua história com o país é mais antiga, já que ele se mudou com a família para cá em 1974, quando tinha 11 anos, e passou 12 anos da sua vida em terras brasileiras.
Como diplomata, Chapman trabalhou em oito países da América Latina, África e Ásia, atuando sob seis presidentes americanos, três republicanos e três democratas.
Antes de retornar à sua terra natal para viver em Denver, no Colorado, mais perto dos dois filhos, o embaixador continua cumprindo compromissos diplomáticos. Em visita ao Paraná nesta semana, ele se encontrou com o governador Ratinho Junior para falar sobre as áreas em que o governo americano e o governo estadual têm cooperação, como comércio, meio ambiente e segurança pública.
Durante visita a Curitiba, o embaixador conversou com a Gazeta do Povo e a RPC sobre os principais pontos da relação entre Brasil e Estados Unidos:
Vacinas
O governo americano anunciou, no começo de junho, um plano para a doação global de pelo menos 80 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. Isso inclui um plano específico para 25 milhões de doses em uma primeira etapa, com 6 milhões delas destinadas à América Latina.
O Brasil será beneficiado por meio do consórcio Covax Facility, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A Casa Branca explicou que pelo menos 75% do total de doses serão compartilhados pelo Covax e o restante será doado diretamente a países necessitados. Porém, os EUA ainda não informaram exatamente como será a distribuição de unidades para cada país.
"Estamos trabalhando com as autoridades brasileiras para concretizar essa doação", disse Chapman, sem dar detalhes sobre a quantidade de doses ou a data em que elas chegarão ao Brasil. "Eu espero que dentro de poucos dias possamos receber uma quantidade significativa de vacinas aqui no país".
Meio ambiente
Questões ambientais e climáticas também têm sido foco da cooperação entre os dois países. "O tema do meio ambiente é muito importante não só para o Brasil e os EUA, mas para o mundo, nessa hora em que temos que ter ações concretas para reduzir a influência do homem no meio ambiente", pontua o embaixador, acrescentando que os dois países mantêm reuniões frequentes para tratar do tema, e que o combate ao desmatamento ilegal tem recebido atenção especial no momento.
"Claro que é uma decisão soberana de cada país, como irão implementar suas políticas. Gostaríamos de ver essas iniciativas talvez com mais atenção às ilegalidades que estão ocorrendo na Amazônia".
Na área ambiental, o governo americano já tem programas há anos para ajudar o desenvolvimento econômico na região amazônica, entre outros, e considera aumentar o orçamento dessa área para investir em iniciativas de combate ao desmatamento ou para solucionar a situação das queimadas, por exemplo.
O embaixador disse ainda que gostaria de ver mais iniciativas do setor privado nessa área. "São os grandes negócios, e aqui é o agronegócio, que são mais impactados com as mudanças climáticas", afirmou.
Bandeira brasileira na Lua
O Brasil assinou nesta semana um acordo de cooperação para a missão Artemis, da Nasa, a agência espacial americana. Esse programa pretende retomar os voos tripulados para a Lua e levar a primeira mulher ao satélite terrestre. A nação brasileira é a primeira da América Latina a aderir aos Acordos de Artemis, que estabelecem regras para a exploração da Lua.
Outros dez países, além de Brasil e EUA, já estão na lista dos que participarão da missão: Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Itália, Japão, Luxemburgo, Nova Zelândia, Reino Unido e Ucrânia. A primeira viagem à Lua do programa Artemis deve ser feita por tripulantes americanos, e as seguintes podem ter a participação de astronautas dos outros países.
"Estou muito animado em pensar em ver a bandeira brasileira ao lado da bandeira dos EUA na Lua. Essa é uma relação sem limites; para além da Terra", comemora Chapman, que esteve na cerimônia de assinatura do acordo em Brasília na terça-feira (15).
Segurança das telecomunicações
Outra área que tem recebido atenção especial dos EUA é a segurança da tecnologia de telecomunicações 5G. Washington tem liderado os esforços para conter as ambições da China em fazer contratos de infraestrutura de redes 5G com outros países, por preocupações com o possível uso da tecnologia pelo governo chinês como base para espionagem e ataques cibernéticos.
"É importante que você possa confiar nas telecomunicações que você tem, e é importante decidir em quem você confia", afirma Chapman. "Neste tempo em que muitos países, lamentavelmente, têm a prática de roubar propriedade intelectual e em que ocorrem crimes cibernéticos, é bastante importante para a segurança econômica e nacional poder confiar nas telecomunicações nas quais sua economia vai se basear".
EUA e aliados
Em sua primeira viagem internacional como presidente, Joe Biden se encontrou com líderes do G7 e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e ganhou o reforço do apoio dos aliados em sua campanha de pressão à China por práticas comerciais abusivas e violações de direitos humanos.
Chapman considerou a reunião do G7 "um bom começo" e seus resultados "promissores". "Acho que o presidente Biden entrou com a sua própria perspectiva sobre a importância de aliados trabalharem em conjunto, chegarem a acordos e implementarem esses acordos conjuntamente", avaliou.
Criação de pontes entre Brasil e EUA
O governo do presidente Jair Bolsonaro tinha uma relação próxima ao governo Trump. Mas a mudança da administração na Casa Branca não significa necessariamente uma virada na relação entre Brasil e EUA.
"A grande maioria das relações entre nações são institucionais, e não pessoais. Mas é claro que as relações pessoais também podem ajudar muito a chegar a acordos e entendimentos", enfatiza o embaixador.
Joe Biden visitou o Brasil duas vezes enquanto era vice-presidente, em 2011 e 2014, ocasiões em que foi recebido por Chapman. "Eu acho que ele é o presidente que mais tem conhecimento sobre o Brasil do que qualquer outro em nossa história, porque ele visitou o país duas vezes e realmente investiu nessa relação", diz o diplomata. "O presidente Biden entende a importância do Brasil para a América Latina e para o mundo. Agora é tempo de criar mais pontes e mais áreas de convergências", destaca.
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