Ao ocupar o Salão Oval da Casa Branca pelos próximos quatro anos, o democrata Joe Biden terá que lidar com o desafio da crescente ambição militar da China. Nos últimos quatro anos, sob o governo Trump, as relações entre Estados Unidos e China foram de maior confronto, mas Biden deve adotar uma postura de maior cooperação com aliados para combater a agressividade de Pequim, em oposição à postura unilateral de Trump. Quando era senador, Biden aplaudia a ascensão da China e defendia um elo de comércio entre EUA e o país asiático; durante a campanha, o democrata criticou o autoritarismo de Pequim.
A expansão militar da China
Apenas nos últimos meses, a China se envolveu em conflitos com mortes em um território disputado com a Índia; intensificou atividades militares em águas disputadas no Mar da China Meridional e acendeu diversas vezes o sinal de alerta das defesas aéreas de Taiwan e Japão.
Pequim alega que Taiwan faz parte da República Popular da China e precisa ser reunificada. Recentemente, a China tem intensificado provocações militares contra a ilha, aumentando a preocupação do mundo com uma possível invasão. Em setembro, 18 aviões chineses ultrapassaram a zona de defesa aérea de Taiwan, em um claro sinal de acirramento das tensões na região.
Taiwan tem recebido apoio de Washington durante o governo Trump, incluindo visitas de autoridades do governo e a aprovação da venda de US$ 22 bilhões em armamentos para a ilha.
Analistas acreditam que os EUA continuarão a apoiar Taiwan com os democratas no poder. “Independentemente de quem vença, os EUA provavelmente manterão uma relação amigável com Taiwan e criticarão os esforços da China para intimidar e desestabilizar a ilha”, disse Timothy Heath, pesquisador do think tank Rand Corp, de Washington, à CNN, antes da eleição. Para o analista, Biden poderia, no entanto, oferecer pequenas concessões à Pequim, como suspender as visitas de representantes do governo em Taiwan e garantir vendas de armas menos potentes no futuro.
Biden foi um dos primeiros políticos americanos a parabenizar a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, por sua reeleição em janeiro.
Tony Blinken, assessor de política externa de Biden cotado para ganhar um posto de alto escalão no futuro governo democrata, alertou que a China, encorajada por ter aumentado o seu poder sobre Hong Kong, poderia buscar a mudança de status quo em Taiwan. “Se a China estiver recebendo sinais de impunidade, uma preocupação é que ela pode pensar que pode fazer o mesmo com Taiwan”, disse Blinken à Bloomberg em julho.
Como presidente, Biden iria “intensificar as defesas da democracia de Taiwan ao expor os esforços de interferência de Pequim”, continuou o principal assessor de Biden para relações externas.
A China também tem buscado reafirmar o seu domínio sobre o Mar da China Meridional, uma região rica em recursos e disputada por diversas nações, aumentando atividades navais na região e ocupando ilhas artificiais. As águas do Mar da China Meridional têm importância para a segurança e comércio pela sua localização estratégica. Pequim vê a região como parte crucial do seu território marítimo e como via da sua Rota da Seda marítima.
No último debate entre os candidatos à presidência dos EUA, Biden falou brevemente sobre a questão, dizendo que aviões americanos iriam sobrevoar as zonas de identificação chinesas.
A Marinha americana tem conduzido missões de “liberdade de navegação” nas águas do Mar da China Meridional com maior frequência nos últimos meses, com o objetivo de alertar Pequim que suas atividades no território estão sendo monitoradas e de reafirmar o compromisso americano com os aliados da região frente à agressão chinesa.
A mudança de posição de Biden em relação à China
Biden atuou por décadas no Comitê de Relações Exteriores do Senado americano e era considerado um grande defensor do maior engajamento entre EUA e China.
Seguindo a deterioração das relações entre EUA e China nos últimos anos, em meio às acusações de violações de direitos humanos pela China e a competição estratégica entre os dois países, Biden também subiu o tom contra Pequim. Em um debate em fevereiro, durante as primárias democratas, Biden disse que o presidente chinês, Xi Jinping, “não tem um osso democrático em seu corpo”.
“Esse cara é um marginal [thug]”, disparou o então pré-candidato, ao falar sobre a prisão de uigures em campos de “reeducação” na China.
Para Biden, os EUA só conseguirão fazer frente a Pequim com o fortalecimento doméstico e a união de aliados para combater os comportamentos abusivos da China, “mesmo enquanto buscamos aprofundar a cooperação em temas nos quais nossos interesses convergem, como mudanças climáticas e a prevenção da proliferação nuclear”, afirmou.
Uma das principais críticas à postura de Biden na política externa é que ele não agiu para impedir o crescimento militar e econômico da China em seus dois mandatos como vice-presidente.
“Eu já passei muitas horas com os líderes chineses e sei contra o que estamos lutando”, disse Biden em artigo de março na Foreign Affairs. Como vice-presidente, ele teve diversos encontros com Xi Jinping, que o chamou de “meu velho amigo” durante encontro em Pequim.
Em sua campanha, Trump afirmava que Biden seria muito “fraco” com o país rival. “A China está desesperada para que Biden Dorminhoco vença a corrida presidencial”, tuitou o republicano.
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