O presidente americano, Joe Biden, delineou a agenda de política externa de seu governo em discurso ao Departamento de Estado nesta quinta-feira (4). Entre os anúncios feitos nesta tarde, estão o fim do apoio à ofensiva saudita no Iêmen, a suspensão da retirada de tropas da Alemanha e a proteção dos direitos dos LGBTQ como ponto central da diplomacia americana.
"A América está de volta. A diplomacia está de volta ao centro da nossa política externa", afirmou Biden em sua primeira visita ao Departamento como presidente, em que buscou deixar clara a mudança da postura "America First" adotada pelo seu antecessor, Donald Trump.
Biden reiterou a necessidade de que os Estados Unidos reforcem suas alianças globais e anunciou mudanças importantes na condução das relações exteriores do país. "Nós iremos reparar nossas alianças e nos envolver com o mundo novamente - não para enfrentar os desafios de ontem, mas os de hoje e os de amanhã. Não podemos fazer isso sozinhos".
Em seu discurso, Biden anunciou o fim do apoio dos Estados Unidos à ofensiva militar de cinco anos liderada pelos sauditas no Iêmen, incluindo a venda de armas, e disse que nomeará um enviado especial para tratar sobre o conflito, que agravou a crise humanitária no país mais pobre da Península Arábica. A medida, que já havia sido informada mais cedo pelo conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, cumpre uma promessa de campanha de Biden, cujo governo planeja buscar a diplomacia para encerrar o conflito geral no Iêmen.
"Nós continuaremos a ajudar e apoiar a Arábia Saudita a defender a sua soberania", acrescentou Biden, referindo-se a ameaças bélicas do Irã e de outros países vizinhos no Oriente Médio.
O presidente vê os Estados Unidos "desempenhando um papel mais ativo e engajado" para encerrar a guerra por meio de negociações disse Sullivan, em uma entrevista coletiva mais cedo na Casa Branca.
Rússia
O presidente americano criticou o governo da Rússia, dizendo que o líder opositor Alexei Navalny, condenado a dois anos e oito meses de prisão, deveria ser "libertado imediatamente e incondicionalmente".
O presidente também destacou que "não hesitará em aumentar o custo" sobre a Rússia diante de interferências do país em eleições nos EUA e ciberataques contra instituições americanas. "Devemos enfrentar determinação da Rússia de danificar nossa democracia", disse.
China
Biden reiterou seu compromisso com os esforços para frear a "ambição" da China de rivalizar com os EUA e confrontar o que ele considera ser abusos econômicos e contra os direitos humanos cometidos pelo país asiático. Ele deixou aberta, porém, a possibilidade de trabalhar com Pequim se for pelo bem da população americana. "Se as leis de comércio internacional não nos prejudicarem e a propriedade intelectual dos americanos for respeitada, nenhum país pode se igualar a nós nem mesmo a China", afirmou Biden.
Refugiados
Joe Biden disse em seu discurso que assinará uma ordem executiva para aumentar o número de admissões anuais de refugiados no país para 125 mil. Nos últimos quatro anos, o número máximo de refugiados permitidos nos EUA diminuiu de 110 mil para 18 mil, segundo o Pew Research Center.
'"Levará tempo para reconstruir o que foi tão seriamente danificado", disse Biden ao falar sobre o programa americano de admissões de refugiados.
Retirada de tropas está suspensa
O presidente dos EUA disse em seu discurso que o Departamento de Defesa coordenará uma revisão para avaliar as operações militares americanas pelo mundo. Além disso, a remoção e o reposicionamento de tropas americanas na Alemanha, que havia sido comandada pelo então presidente Donald Trump, estão congelados, afirmou Biden.
A revisão de postura global, a cargo do novo secretário de Defesa, Lloyd Austin, servirá para que as ações militares dos EUA estejam alinhadas com as prioridades da nossa política externa e segurança nacional, segundo Biden.
No ano passado, Trump anunciou o plano de reposicionar cerca de 9.500 entre os 34.500 membros das forças armadas americanas que estão posicionados na Alemanha, após acusar o país europeu de não cumprir suas obrigações como membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No entanto, nenhuma movimentação foi feita desde o anúncio.
Conflito no Iêmen
A Arábia Saudita iniciou a ofensiva em 2015 para conter uma facção houti iemenita que havia tomado território no Iêmen e estava lançando mísseis transfronteiriços contra o reino. Uma campanha aérea liderada pelos sauditas desde então matou vários civis iemenitas. Os Estados Unidos deram assistência ao comando e controle do Exército saudita alegando que o objetivo era minimizar as vítimas civis na campanha de bombardeio.
O governo Obama inicialmente deu luz verde à ofensiva liderada pelos sauditas. Alguns dos funcionários dos Estados Unidos envolvidos, desde então, disseram que lamentam essa decisão e agora estão no governo Biden, que se propõe a impedir o envolvimento do país e encerrar o conflito multipartidário.
Os sobreviventes exibem fragmentos mostrando as bombas de fabricação americana. O conflito também agravou a fome e a pobreza no Iêmen, e especialistas em direitos internacionais dizem que tanto os países do Golfo quanto os houtis cometeram graves abusos.
O líder da diplomacia americana, Antony Blinken, já havia prometido anteriormente encerrar o apoio de Washington à coalizão militar liderada pelos sauditas que intervinha junto ao governo iemenita contra os rebeldes.
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