O presidente americano, Joe Biden, e o Pentágono manifestaram nesta quarta-feira (15) apoio ao general Mark Milley, chefe do Estado-Maior, após o Washington Post divulgar na terça-feira (14) trechos de um livro que revelam que ele conversou com a China nos últimos meses da gestão de Donald Trump sem supostamente avisar o então presidente republicano.
Trechos do livro “Peril” (“Perigo”), dos jornalistas Bob Woodward e Robert Costa, apontam que Milley se comunicou duas vezes com a China, em outubro de 2020, quatro dias antes da eleição americana, e em 8 de janeiro deste ano, dois dias após a invasão do Capitólio, para garantir que havia estabilidade nos Estados Unidos e negar intenções de guerra com o país asiático. Segundo o livro, o general chegou a dizer a seu homólogo chinês, o general Li Zuocheng, que ele seria “avisado com antecedência” em caso de conflito.
Ainda de acordo com “Peril”, Milley teria manifestado a algumas pessoas preocupação sobre uma suposta “deterioração mental” de Trump, entre elas a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.
Nesta quarta, perguntado por repórteres sobre os trechos publicados no Washington Post, Biden se limitou a dizer que “tem grande confiança no general Milley”. O porta-voz do Pentágono, John Kirby, deu declaração semelhante à imprensa. “O secretário (da Defesa, Lloyd Austin) tem total e absoluta confiança no general Milley e em seu papel como chefe do Estado-Maior”, afirmou.
Já o porta-voz do Estado-Maior, coronel Dave Butler, disse que o objetivo de Milley ao entrar em contato com o general Li Zuocheng foi apenas “transmitir tranquilidade, a fim de manter a estabilidade estratégica”.
“Todas as ligações do general para seus homólogos, incluindo as relatadas, são coordenadas e comunicadas ao Departamento de Defesa”, disse Butler, alegando que os contatos de Milley não configuraram quebra de protocolo.
A respeito da informação do livro de que o chefe do Estado-Maior teria inclusive reunido oficiais para revisar os procedimentos para o lançamento de armas nucleares, dizendo que o presidente sozinho poderia dar a ordem, mas que ele, Milley, também teria que estar envolvido, Butler disse que a reunião “foi para lembrar aos oficiais no Pentágono dos procedimentos robustos e há muito estabelecidos à luz das reportagens da mídia sobre o assunto”.
A divulgação de trechos de “Peril” gerou forte reação entre os republicanos. O senador Marco Rubio, da Flórida, enviou uma carta a Biden solicitando a demissão imediata de Milley.
“Escrevo com grande preocupação a respeito de relatos recentes de que o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior, trabalhou para minar ativamente o comandante em chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos e contemplou um vazamento traiçoeiro de informações confidenciais para o Partido Comunista Chinês antes de um potencial conflito armado com a República Popular da China”, escreveu Rubio no documento.
O próprio Trump declarou na terça-feira que acreditava que a história era “fabricada”, mas, que se for verdadeira, Milley deveria ser “julgado por traição”. “Só para constar, nunca pensei em atacar a China”, acrescentou Trump.