Um bilionário de 38 anos bagunçou a eleição presidencial uruguaia. Nas últimas semanas, Juan Sartori vem crescendo nas pesquisas e tirando a vantagem do então favorito Luis Alberto Lacalle Pou pela vaga de candidato do Partido Nacional nas primárias do dia 30. Sartori é admirador de Donald Trump e de Jair Bolsonaro e aposta que a onda de direita também chegue ao Uruguai.
A eleição uruguaia está marcada para 27 de outubro. Embora a governista Frente Ampla lidere com 36% das intenções de voto, a sensação é a de que o próximo presidente sairá das prévias do conservador Partido Nacional. Historicamente conhecidos como "blancos", eles estão em segundo, com 29%, o suficiente para disputar o segundo turno e atrair o voto da oposição ao desgastado governo de centro-esquerda, há 15 anos no poder.
Em janeiro, Sartori esteve com Bolsonaro no Fórum Econômico de Davos. "Tire a esquerda de lá", recomendou o brasileiro.
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Latifundiário, dono do Sunderland, time de futebol inglês, e marido de Ekaterina Rybolovleva, filha de um magnata russo, Sartori faturou US$ 50 milhões com a venda de maconha legalizada no governo de José "Pepe" Mujica e retornou ao Uruguai depois de 25 anos vivendo no exterior com um objetivo: ser presidente. "Estava indignado com o que acontece no Uruguai, por isso decidi entrar na política. Não vejo a política como uma coisa feia, porque não carrego o peso e os vícios dos políticos tradicionais. Não quero me perpetuar em nenhum cargo. Para mim, a política é uma atividade preciosa e nobre. É por isso que decidi deixar o mundo dos negócios", disse.
Ele se apresentou como candidato, apesar de nunca ter sido membro do Partido Nacional, e está confiante que derrotará o favorito Lacalle Pou. "Tenho minhas próprias pesquisas que dizem que vou ganhar."
Estagnação econômica e criminalidade desgastaram governo de centro-esquerda
As chances de vitória dos esquerdistas da Frente Ampla esbarram no desgaste dos últimos 15 anos, no aumento da criminalidade e na estagnação econômica, que favorece o discurso populista de Sartori. "Ele nunca foi militante ou ocupou cargos públicos. Sartori rompeu todas as regras da política uruguaia", disse o analista político Adolfo Garcé.
Sartori recebeu a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em sua casa – e QG de campanha. Sempre vestido com um impecável terno azul-marinho, combinando com uma gravata fina e camisa branca, ele cumprimenta todos com um beijo e um abraço.
Como empresário, ele chefiou a Union Agriculture Group (UAG), que atraía investidores estrangeiros interessados no setor agropecuário do Uruguai. Ganhou dinheiro, mas perdeu ainda mais. Em 2018, a empresa fechou o ano com prejuízo de US$ 150 milhões, e ele foi afastado da direção.
Sartori é acionista da International Cannabis Corporation (ICC), cotada na Bolsa de Valores de Toronto, no Canadá, e primeira empresa a vender maconha para as farmácias uruguaias. No negócio, faturou US$ 50 milhões, mas ainda assim reclama. "Garanto que, com todos os impostos que paguei, perdi mais dinheiro do que ganhei."
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Embora não seja um político tradicional, Sartori não economiza nas promessas. Durante a campanha, afirmou que criará 100 mil empregos – um exagero para um país de 3 milhões de habitantes –, cortará impostos e reduzirá o preço da gasolina e da conta de luz, o que atrairá, segundo ele, novos investimentos para o país.
Pesquisa recente do instituto Cifra mostra que as prévias do Partido Nacional serão apertadas. Em fevereiro, Lacalle Pou liderava com folga. Ele tinha 59% das intenções de voto. Sartori, apenas 9%. No mês passado, a diferença caiu para 42% a 22%. Esta semana, diminuiu mais oito pontos porcentuais e chegou a 36% a 26%. A esse ritmo, a vaga ainda está em aberto, dizem especialistas.