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Bill Gates, fundador da Microsoft, e Melinda Gates anunciaram no início de maio que o seu casamento havia chegado ao fim. Juntos desde 1994, o casal divulgou um comunicado conjunto em que diz: "Nos últimos 27 anos, criamos três filhos incríveis e construímos uma fundação que trabalha em todo o mundo para permitir que as pessoas tenham vidas saudáveis e produtivas".
A nota diz ainda: "Continuamos a compartilhar a crença nesta missão e trabalharemos juntos na fundação, mas não acreditamos que possamos crescer como um casal na próxima fase de nossas vidas".
No domingo passado, Bill Gates admitiu que teve um relacionamento com uma engenheira da Microsoft – o caso deu início a uma investigação interna da empresa, noticiou o Wall Street Journal. Alguns membros do conselho administrativo da empresa de tecnologia acreditavam que Gates deveria deixar o quadro, mas ele renunciou ao cargo antes da conclusão da investigação.
Melinda já consultava seus advogados sobre uma possível separação desde 2019, quando a relação de Bill Gates e Jeffrey Epstein, acusado e preso por crimes sexuais, se estreitou. A empresária chegou a advertir o então marido sobre a ligação entre os dois. Epstein foi encontrado morto em agosto de 2019 na prisão, antes do julgamento que o acusava de tráfico de menores.
O casal estava separado desde então, segundo o contrato de separação assinado pelos dois, e Melinda afirmou algumas vezes que o casamento estava "inevitavelmente quebrado". No mesmo dia em que a notícia veio a público, Gates transferiu cerca de US$ 1,8 bilhão em ações para Melinda, relacionadas às empresas em que os dois investiam juntos.
Segundo reportagem do New York Times, em algumas ocasiões, Bill Gates buscou relacionamentos com outras mulheres que trabalhavam para ele na Microsoft em na fundação que leva o nome do casal.
O jornal relata que, em 2006, Gates participou de uma apresentação de uma funcionária da Microsoft e em seguida a convidou para jantar. "Se isso a deixar desconfortável, finja que nunca aconteceu", escreveu ele por e-mail. Seis mulheres que trabalham ou trabalharam para Gates disseram ao NY Times que atitudes como essa por vezes criavam um ambiente de trabalho desconfortável.
A investigação da Microsoft
Segundo reportagem do WSJ, os membros do conselho administrativo da Microsoft decidiram que Bill Gates deveria deixar o quadro em 2020 enquanto ocorria uma investigação sobre o relacionamento entre o fundador da empresa e uma funcionária que foi considerado inapropriado.
Uma empresa de advocacia foi contratada no final de 2019 para conduzir a investigação, depois que a funcionária, uma engenheira da Microsoft, alegou em uma carta que teve um relacionamento amoroso com Gates durante anos. Fontes disseram que membros do conselho começaram a se preocupar que o caso tivesse sido inapropriado e não queriam um diretor envolvido em uma situação dessas na era do movimento MeToo.
Bill Gates renunciou ao seu posto no conselho administrativo da empresa antes que a investigação fosse concluída e antes que o conselho pudesse tomar uma decisão final sobre a questão, disseram fontes da empresa ao WSJ. Ele deixou a função em 13 de março de 2020, três meses após ser reeleito.
Uma porta-voz da Microsoft disse que uma carta entregue no segundo semestre de 2019 informava que Bill Gates "procurou iniciar uma relação íntima com uma funcionária da empresa no ano de 2000". "Um comitê do Conselho revisou a queixa, auxiliado por uma firma externa de advocacia para conduzir uma investigação minuciosa. Durante a investigação, a Microsoft deu todo o apoio à funcionária que levantou a queixa".
Uma porta-voz de Bill Gates disse ao jornal americano que houve um caso amoroso 20 anos atrás que terminou "de maneira amigável". Ela informou ainda que a decisão de Gates de deixar o Conselho não está relacionada a essa questão, mas sim ao seu desejo de se dedicar mais ao trabalho filantrópico.
Projetos filantrópicos
Bill e Melinda Gates se conheceram em 1987 em um evento do setor tecnológico e, posteriormente, nos começo dos anos 1990, Melinda começou a trabalhar na Microsoft como gerente de informações de produtos. Na sequência, Bill, hoje com 65 anos, e Melinda, 56, trocaram alianças – a cerimônia aconteceu em janeiro de 1994 no Havaí. Dois anos depois, Melinda deixou a Microsoft para se dedicar à família, composta pelos filhos Jennifer, Rory e Phoebe.
Com a saída de Gates do comando da Microsoft em 2014, o casal passou a se dedicar inteiramente a projetos filantrópicos, principalmente em temas ligados à saúde, por meio da Fundação Bill e Melinda Gates. De acordo com o site da fundação, já foram investidos US$ 53,8 bilhões em projetos filantrópicos desde o ano 2000.
No final de 2020, por exemplo, o casal fez uma doação de US$ 250 milhões para combater a pandemia de Covid-19 – no total, foram doados mais de US$ 500 milhões na luta contra a pandemia. Nesse período, Bill não foi só fonte de dinheiro. Ele acabou se tornando uma das principais vozes a favor da ciência e de vacinas entre os bilionários americanos.
Sobre o assunto, Melinda falou ao New York Times em dezembro do ano passado: "Existe um medo e as pessoas querem apontar (a culpa) para alguém ou alguma instituição. Uma vez que isso pega naquela pessoa ou instituição, você tem um efeito de acúmulo por causa das mídia sociais. Isso é profundamente preocupante para a nossa sociedade. Nossa democracia depende de fatos, e nós dependemos em ter fatos reais para nos mantermos seguros e saudáveis", disse.
Desde o final dos anos 1990, a fundação alerta para a possibilidade de uma pandemia, e seus investimentos estiveram ligados ao tema. Uma das empresas que recebeu no passado dinheiro do casal Gates é a BioNTech, que conseguiu desenvolver junto com a Pfizer uma vacina contra a Covid-19. Agora, não é possível saber o impacto do divórcio na fundação.
Também não é possível saber o impacto do divórcio sobre a Microsoft, mas o papel de Bill na empresa já era reduzido tanto como gestor quanto como investidor. Além de já ter deixado o conselho da empresa no ano passado, a fortuna de Gates está menos atrelada à Microsoft do que se imagina nos dia atuais. Ele detém apenas 1,36% de ações da Microsoft. Jeff Bezos, em comparação, tem 10% de ações da Amazon. As ações da Microsoft, por exemplo, não foram afetadas pela informação: após o fechamento do mercado, elas variavam negativamente 0,13%.
Melinda, porém, já expressou o desejo de ver o aumento de impostos para os bilionários dos EUA. Ao New York Times, ela falou: "Não temos uma política tributária que está taxando apropriadamente os mais ricos. Eu não sou uma expert em política tributária, mas digo: 'Muitos dos ricos estão tendo a maior parte de seus ganhos do seu capital em comparação com a renda'. Isso é algo que podemos olhar na política tributária", disse.