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As evidências científicas sobre medicamentos bloqueadores de puberdade, usados para mudança de gênero em crianças e adolescentes, são "muito baixas", concluiu o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Assistência (Nice, na sigla em inglês), órgão do Departamento de Saúde da Inglaterra.
A avaliação foi requisitada pelo sistema de saúde pública da Inglaterra, como parte de uma revisão dos serviços de atendimento a crianças e adolescentes de até 18 anos com problemas de identidade de gênero no país, segundo noticiou a BBC.
Segundo a revisão, publicada em março, os estudos já feitos sobre esses medicamentos foram pequenos e "sujeitos a enviesamento e fatores de confusão".
Os chamados bloqueadores de puberdade são análogos do hormônio liberador de gonadotrofina e atuam no cérebro, impedindo o aumento dos hormônios sexuais naturalmente produzidos durante a puberdade (como estrogênio e testosterona). Ou seja, esses medicamentos bloqueiam os hormônios que causam mudanças no corpo como o crescimento de seios em mulheres e o aparecimento de pelos em homens.
Os pesquisadores procuraram analisar o impacto dos bloqueadores de puberdade no tratamento da disforia de gênero, na saúde mental e na qualidade de vida das crianças e adolescentes. "A qualidade da evidência sobre esses resultados foi avaliada como de muito baixa certeza", afirma o relatório.
Entre os problemas encontrados pelo Nice nos estudos já feitos sobre esses medicamentos, que foram todos "pequenos", está a falta de grupos de controle - grupos que não recebem tratamento e que permitem a comparação entre os efeitos de diferentes intervenções.
Alguns também forneceram "poucos dados" sobre outros tipos de intervenções, como ajuda psicológica ou a administração de outros medicamentos e não descreveram outros problemas físicos e mentais que podem ser enfrentados por crianças e adolescentes que passam por esse tratamento. Essas falhas podem gerar resultados tendenciosos, dizem os autores da revisão.
Os especialistas do Nice reconheceram que seria difícil conduzir estudos com grupo de controle, devido ao potencial impacto sobre a saúde mental dos participantes que não recebessem tratamento. No entanto, eles disseram que oferecer apoio psicológico "pode reduzir preocupações éticas em pesquisas futuras".
"Quaisquer benefícios potenciais dos hormônios de afirmação de gênero [bloqueadores de puberdade] devem ser ponderados em contraste com o perfil de segurança de longo prazo amplamente desconhecido desses tratamentos em crianças e adolescentes com disforia de gênero", aconselham os autores da revisão.